Pág. 154 - "Numa conceituação teoricamente mais rigorosa e mais coerente, a língua standard pode ser caracterizada pela codificação e pela aceitação, numa dada comunidade linguística, de um conjunto formal de normas que definem o uso correcto da língua. Se é verdade que a natureza heterogênea da língua faz parte da sua definição, é igualmente incontestável que uma comunidade sociocultural - que é frequentemente também uma comunidade política - não vive em equilíbrio interno e não se desenvolve adequadamente se as variações diatópicas e diastráticas da sua língua não forem compensadas pela existência de uma 'língua unitária' e de uma gramática standard que, (p. 155) sobrepondo-se ao polilectalismo centrífugo, assegurem a comunicação entre os múltiplos grupos e subgrupos regionais e sociais e possibilitem o exercício de uma indispensável normatividade social, ética, jurídica e política.Ora, como põe em relevo Fishman, se a aceitação da língua standard é fomentada e imposta por entidades e mecanismos sociopolíticos e socioculturais como os governos, a administração pública, o sistema educativo, as academias, os meios de comunicação social, etc., a codificação daquela mesma língua é realizada e difundida na comunidade, com carácter explícita ou implicitamente impositivo, através de instrumentos como as gramáticas, os dicionários e os textos considerados como exemplares - isto é, acrescentaremos e sublinharemos nós, textos que sempre literários, em geral da autoria de escritores reputados como 'mestres da língua'. Numa perspectiva diacrónica, com efeito, a língua standard organiza-se, enriquece-se e transforma-se em profunda ligação com a língua literária, que constitui, ao mesmo tempo, língua de cultura e de civilização; numa perspectiva sincrónica, (p. 156) é com frequência que se recorre à língua literária a fim de estabelecer o possível 'jurídico' que configura a norma gramatical de uma determinada língua histórica.
Se uma língua literária representa, por conseguinte, um factor relevante nos processos de formação e aceitação da norma gramatical de uma língua, carece de lógica atribuir-lhe como propriedade fundamental e distintiva o desvio em relação àquela mesma norma. Por outro lado, não devem ser minimizados os argumentos, aduzidos por diversos autores, de que em muitos textos literários não ocorrem desvios relevantes em relação à norma da língua standard e de que textos com desvios numerosos e profundos não possuem ipso facto estatuto literário.
(CONTINUA)
Parabéns Menalton, pelo trabalho maravilhoso!!!!
ResponderExcluirObrigado, Laercio José.
ResponderExcluir