Pág. 158 - "Chomsky estabelece uma distinção fundamental entre gramaticalidade e aceitabilidade de uma frase. A gramaticalidade define a propriedade das frases de uma dada língua que são geradas pela gramática dessa mesma língua: a gramática de uma dada língua, isto é, o conjunto finito de regras que configura a competência linguística de um nativo, gera todas as frases bem formadas dessa mesma língua e apenas estas. A aceitabilidade, em contrapartida, é um conceito atinente à opinião que um informante ou um grupo de informantes manifestam sobre a compreensibilidade ou a admissibilidade de uma determinada frase.
Quer dizer, enquanto o conceito de gramaticalidade pertence ao domínio da competência linguística, o conceito de aceitabilidade pertence ao domínio da realização ("performance") linguística, não possuindo os dois conceitos, por conseguinte, idêntico estatuto teorético e divergindo tanto na sua intensão como na sua extensão. A gramaticalidade representa um dos vários factores que determinam e condicionam a aceitabilidade, mas uma frase gramatical não constitui ipso facto uma frase aceitável (assim acontece, por exemplo, com frases gramaticais que, por serem demasiado (p.159) extensas, por conterem construções de incrustação repetida, de auto-incrustação, etc., não logram aceitabilidade). Tanto a gramaticalidade como a aceitabilidade são fenómenos gradativos que apresentam escalas não coincidentes, tornando-se por vezes muito difícil, senão aleatório, determinar com rigor os respectivos graus e até demarcar os limites da gramaticalidade e da agramaticalidade, da aceitabilidade e da inaceitabilidade. Neste domínio, como em muitos outros, as rígidas oposições binárias peculiares do taxinomismo estruturalista revelam-se precárias e deformadoras da complexidade dos fenómenos sob investigação, parecendo indispensável o recurso aos métodos e processos de análise proporcionados por uma linguística discreta ("fuzzy gramar").
A gramaticalidade consubstancia, pois, a norma em relação à qual se opera o desvio, podendo a violação desta norma ser deliberadamente explorada como um mecanismo literário.
A agramaticalidade de uma frase resulta da infracção apenas de regras sintácticas, de regras sintácticas e semânticas ou tão-só de regras semânticas? Esta pergunta envolve um dos problemas mais complexos e mais debatidos de toda a linguística gerativa: o problema das relações entre a sintaxe e a semântica. Embora tenha modificado alguns aspectos (p. 160) relevantes da sua teoria sobre estas relapções, desde a sua primeira obra publicada, Syntatic structures (1957), passando pelos Aspects of the theory of syntax (1965), em que formula o modelo da chamada standard theory, até Studies on semantics in generative grammar (1972), em que é exposto o modelo da chamada extended standard theory, Chomsky nunca alterou substancialmente a sua hipótese de que a sintaxe é autónoma em relação à semântica e de que o componente semântico possui uma função meramente interpretativa e nunca gerativa. Nesta perspectiva, a agramaticalidade de uma frase procede sempre da violação de regras sintácticas."
(CONTINUA)
Quer dizer, enquanto o conceito de gramaticalidade pertence ao domínio da competência linguística, o conceito de aceitabilidade pertence ao domínio da realização ("performance") linguística, não possuindo os dois conceitos, por conseguinte, idêntico estatuto teorético e divergindo tanto na sua intensão como na sua extensão. A gramaticalidade representa um dos vários factores que determinam e condicionam a aceitabilidade, mas uma frase gramatical não constitui ipso facto uma frase aceitável (assim acontece, por exemplo, com frases gramaticais que, por serem demasiado (p.159) extensas, por conterem construções de incrustação repetida, de auto-incrustação, etc., não logram aceitabilidade). Tanto a gramaticalidade como a aceitabilidade são fenómenos gradativos que apresentam escalas não coincidentes, tornando-se por vezes muito difícil, senão aleatório, determinar com rigor os respectivos graus e até demarcar os limites da gramaticalidade e da agramaticalidade, da aceitabilidade e da inaceitabilidade. Neste domínio, como em muitos outros, as rígidas oposições binárias peculiares do taxinomismo estruturalista revelam-se precárias e deformadoras da complexidade dos fenómenos sob investigação, parecendo indispensável o recurso aos métodos e processos de análise proporcionados por uma linguística discreta ("fuzzy gramar").
A gramaticalidade consubstancia, pois, a norma em relação à qual se opera o desvio, podendo a violação desta norma ser deliberadamente explorada como um mecanismo literário.
A agramaticalidade de uma frase resulta da infracção apenas de regras sintácticas, de regras sintácticas e semânticas ou tão-só de regras semânticas? Esta pergunta envolve um dos problemas mais complexos e mais debatidos de toda a linguística gerativa: o problema das relações entre a sintaxe e a semântica. Embora tenha modificado alguns aspectos (p. 160) relevantes da sua teoria sobre estas relapções, desde a sua primeira obra publicada, Syntatic structures (1957), passando pelos Aspects of the theory of syntax (1965), em que formula o modelo da chamada standard theory, até Studies on semantics in generative grammar (1972), em que é exposto o modelo da chamada extended standard theory, Chomsky nunca alterou substancialmente a sua hipótese de que a sintaxe é autónoma em relação à semântica e de que o componente semântico possui uma função meramente interpretativa e nunca gerativa. Nesta perspectiva, a agramaticalidade de uma frase procede sempre da violação de regras sintácticas."
(CONTINUA)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças