quinta-feira, 6 de novembro de 2014

APÓS HOMENAGEM EM GUATAPARÁ, ENTREVISTA AO CELULOSE ONLINE

Menalton Braff: autor de 21 livros recebe homenagem em Guatapará (SP)


05/11/2014 – Ele é escritor, produz crônicas semanais na revista Carta Capital e eventualmente faz resenhas e prefácios. Também autor de 21 livros, Menalton Braff foi homenageado na manhã de hoje (5) em Guatapará (SP), durante cerimônia do projeto Bibliotecas (leia na íntegra).

Nascido em Taquara (RS), passou boa parte da adolescência em Porto Alegre (RS) e em 1965 viajou para São Paulo (SP), onde se formou e pós graduou em Letras. Neste período publicou dois livros, ainda com pseudônimo em homenagem ao bisavô. Casou-se, também com uma amante da literatura e mudou-se para Serrana (SP), na região de Ribeirão Preto (SP).

Conheça abaixo um pouco da história do escritor que passou a maior parte dos seus 76 anos mudando de cidade em cidade, mas que, mesmo assim, nunca perdeu o hábito da leitura.

CeluloseOnline – Como começou a paixão por livros?

Menalton Braff – Eu vou te contar uma história: com cinco anos de idade eu estava vendo meu pai ensinar a minha irmã a ler e um dia ela não conseguiu ler o texto que ele mandou. Eu, que só ficava espiando, acabei lendo para livrar minha irmã da bronca. Foi naquele momento que eu descobri que já sabia ler.


Depois disso, fui ler O Guarany, de José de Alencar, mas em forma de revista em quadrinhos de uma editora do Rio de Janeiro, que transformava clássicos em quadrinhos. Três anos depois, eu escrevi meu primeiro poema. Estava emocionado com a visão de um cachorrinho ferido, em um dia de chuva, dentro de um abrigo num ponto de ônibus. Lá pelos meus 12 anos eu já tinha lido praticamente todos os livros de José de Alencar e Machado de Assis. Com 14, comecei a produzir meus primeiros textos e publicava em revistas de escola. Mais tarde, em revista de verdade.

Mas eu ainda não tinha essa ideia do que era ser escritor. Ainda não tinha maturidade para isso. E no terceiro Clássico (que equivaleria ao ensino médio de hoje), eu tomei conhecimento de um escritor conterrâneo meu, o Érico Veríssimo. Notei que os personagens dele tinham muitas semelhanças com os meus primos, aí eu pensei: “Mas se o Érico Veríssimo pode falar dos meus primos, muito melhor posso falar eu”. E então, comecei a me preparar.

Eu percebi uma coisa: que eu precisava ler muito. Eu já lia bastante, mas, a partir daí, comecei a ler mais. Só que ainda faltavam alguns instrumentos para eu tocar na orquestra. Resultado? Fui fazer um curso de letras. E acabei professor, lógico. Trabalhei como tal até me aposentar.

CeluloseOnline – Quando saiu da capital paulista você se mudou para o interior. O que o motivou para isso?

Menalton Braff – A família da minha esposa é de Ribeirão Preto (SP), por isso, quando casamos vínhamos quase todos os finais de semana para cá. E também a vida estava ficando muito difícil em São Paulo (SP) por causa do trânsito, perigo que a gente sofria diariamente com assaltos. São Paulo (SP) estava ficando perigosa demais. E quando eu vim para o interior, tive a ascensão da profissão quando conseguir publicar os outros 19 títulos. Hoje, tenho mais alguns, só falta acordar com as editoras.

CeluloseOnline – Qual a relação que você vê entre a mudança para o interior e as publicações dos 19 livros?

Menalton Braff – Entre parênteses, eu adoro São Paulo. É uma cidade espetacular. O que não tem em São Paulo não existe em lugar nenhum. Agora, convenhamos, é uma cidade cansativa. É uma cidade que te moí, você vira carne moída. Lá eu não conseguia produzir, produzia muito pouco. Não dava tempo. Imagina o tempo que a gente perde no trânsito para ir trabalhar. E quando chega em casa, você não tem mais inspiração, não tem mais disposição, você não tem vontade de fazer mais nada. Só quer descansar.

CeluloseOnline – Das suas publicações, qual mais gosta?

Menalton Braff – Saiu um estudo de um professor de literatura da Unesp de São José do Rio Preto sobre um livro meu. O estudo consta de um livro de ensaios críticos editado pela Editora Mackenzie, em(SP) sobre um livro meu, editado pela editora Mackenzie, em São Paulo (SP). E vendo as vinte e poucas páginas que ele escreveu sobre um livro meu, ficou parecendo que aquele é o melhor, que é o Bolero de Ravel.

CeluloseOnline – Você pode contar um pouco sobre ele?

Menalton Braff – É muito difícil falar dele porque eu não vou conseguir transcrever a linguagem. Mas alguma coisa eu posso te dizer: é a história de um jovem que recusa a sociedade como ela é. Então, ele para de estudar, não vai trabalhar e logo chega aos seus trinta anos ou trinta e cinco anos. É um adultescente. Ele gosta de ouvir  o Bolero, de Ravel, que a mãe toca em um piano. Mas um dia, o pai e a mãe sofrem acidente de moto.  o pai e a mãe sofrem um acidente de carro. O restante da história você só vai saber lendo a obra e cada pessoa que ler vai dar sua interpretação.

CeluloseOnline – Durante todo esse tempo de atuação, e na sua concepção, o que diria que é preciso para ser um bom escritor?

Menalton Braff – Sem dúvidas, a primeira coisa que precisa é de muita leitura. Precisa conhecer não apenas a literatura de hoje, mas também os clássicos e entender todo o caminho que foi percorrido por ela, principalmente a partir do século 19. Porque escrever não é apenas contar uma história, tem que saber o que está fazendo, ter consciência do seu espaço, visão de mundo. Dois: além de tudo isso, muita disciplina. Na prosa literária, no romance, precisa criar o hábito de todo dia ter uma hora que você senta e escreve, ou, no mínimo, tenta. Mesmo que não saia nada, você precisa ficar ali tentando. Eu diria que esses são os pilares: leitura, conhecimento e disciplina.

CeluloseOnline – Por que você acha que ainda falta interesse na leitura do público, principalmente, o jovem?

Menalton Braff – Nessa questão há uma observação para fazer: a falta de interesse sempre existiu. O jovem de toda época foi avesso à leitura. A maioria dos meus colegas de sala preferia futebol à literatura.

É uma questão cultural. A gente não pode esquecer que o Brasil é um país que vem de um escravismo até o século 19. Escravismo analfabeto, diga-se de passagem. Acontece que o processo de alfabetização no Brasil é recente. Lembro-me que quando eu era criança mais de 50% das pessoas não sabiam ler, nem escrever.

CeluloseOnline – Partindo do seu histórico, qual é a emoção de receber a homenagem hoje?

Menalton Braff – Realmente, eu vou dizer que não é só que  me encanta é que me compensa porque a vida do escritor, em alguns sentidos, é uma vida sofrida. Eu preciso abrir mão de um monte de coisas para produzir. Então, em uma hora dessas, eu digo que valeu a pena. E dá um novo ânimo, vontade de fazer mais.


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