Menalton Braff: autor de 21 livros recebe homenagem em Guatapará (SP)

Nascido em Taquara (RS), passou boa parte da adolescência em
Porto Alegre (RS) e em 1965 viajou para São Paulo (SP), onde se formou e pós
graduou em Letras. Neste período publicou dois livros, ainda com pseudônimo em
homenagem ao bisavô. Casou-se, também com uma amante da literatura e mudou-se
para Serrana (SP), na região de Ribeirão Preto (SP).
Conheça abaixo um pouco da história do escritor que passou a
maior parte dos seus 76 anos mudando de cidade em cidade, mas que, mesmo assim,
nunca perdeu o hábito da leitura.
CeluloseOnline – Como começou a paixão por livros?
Menalton Braff – Eu vou te contar uma história: com cinco
anos de idade eu estava vendo meu pai ensinar a minha irmã a ler e um dia ela
não conseguiu ler o texto que ele mandou. Eu, que só ficava espiando, acabei lendo
para livrar minha irmã da bronca. Foi naquele momento que eu descobri que já
sabia ler.
Depois disso, fui ler O Guarany, de José de Alencar, mas em
forma de revista em quadrinhos de uma editora do Rio de Janeiro, que
transformava clássicos em quadrinhos. Três anos depois, eu escrevi meu primeiro
poema. Estava emocionado com a visão de um cachorrinho ferido, em um dia de
chuva, dentro de um abrigo num ponto de ônibus. Lá pelos meus 12 anos eu já tinha
lido praticamente todos os livros de José de Alencar e Machado de Assis. Com 14, comecei
a produzir meus primeiros textos e publicava em revistas de escola. Mais tarde,
em revista de verdade.
Mas eu ainda não tinha essa ideia do que era ser escritor.
Ainda não tinha maturidade para isso. E no terceiro Clássico (que equivaleria
ao ensino médio de hoje), eu tomei conhecimento de um escritor conterrâneo
meu, o Érico Veríssimo. Notei que os personagens dele tinham muitas semelhanças
com os meus primos, aí eu pensei: “Mas se o Érico Veríssimo pode falar dos meus
primos, muito melhor posso falar eu”. E então, comecei a me preparar.
Eu percebi uma coisa: que eu precisava ler muito. Eu já lia
bastante, mas, a partir daí, comecei a ler mais. Só que ainda faltavam alguns
instrumentos para eu tocar na orquestra. Resultado? Fui fazer um curso de
letras. E acabei professor, lógico. Trabalhei como tal até me aposentar.
CeluloseOnline – Quando saiu da capital paulista você se
mudou para o interior. O que o motivou para isso?
Menalton Braff – A família da minha esposa é de Ribeirão Preto
(SP), por isso, quando casamos vínhamos quase todos os finais de semana para
cá. E também a vida estava ficando muito difícil em São Paulo (SP) por causa do
trânsito, perigo que a gente sofria diariamente com assaltos. São Paulo (SP)
estava ficando perigosa demais. E quando eu vim para o interior, tive a
ascensão da profissão quando conseguir publicar os outros 19 títulos. Hoje,
tenho mais alguns, só falta acordar com as editoras.
CeluloseOnline – Qual a relação que você vê entre a mudança
para o interior e as publicações dos 19 livros?
Menalton Braff – Entre parênteses, eu adoro São Paulo. É uma
cidade espetacular. O que não tem em São Paulo não existe em lugar nenhum.
Agora, convenhamos, é uma cidade cansativa. É uma cidade que te moí, você vira
carne moída. Lá eu não conseguia produzir, produzia muito pouco. Não dava
tempo. Imagina o tempo que a gente perde no trânsito para ir trabalhar. E
quando chega em casa, você não tem mais inspiração, não tem mais disposição,
você não tem vontade de fazer mais nada. Só quer descansar.
CeluloseOnline – Das suas publicações, qual mais gosta?
Menalton Braff – Saiu um estudo de um professor de
literatura da Unesp de São José do Rio Preto sobre um livro meu. O estudo consta de um livro de ensaios críticos editado pela Editora Mackenzie, em(SP) sobre um livro meu, editado
pela editora Mackenzie, em São Paulo (SP). E vendo as vinte e poucas páginas
que ele escreveu sobre um livro meu, ficou parecendo que aquele é o melhor, que
é o Bolero de Ravel.
CeluloseOnline – Você pode contar um pouco sobre ele?
Menalton Braff – É muito difícil falar dele porque eu não
vou conseguir transcrever a linguagem. Mas alguma coisa eu posso te dizer: é a
história de um jovem que recusa a sociedade como ela é. Então, ele para de
estudar, não vai trabalhar e logo chega aos seus trinta anos ou trinta e cinco
anos. É um adultescente. Ele gosta de ouvir o Bolero, de Ravel, que a mãe toca em um piano. Mas um dia, o pai e a mãe sofrem acidente de moto. o pai e a mãe sofrem um acidente de carro. O restante da história você só vai saber lendo a obra e cada pessoa que ler vai dar sua interpretação.
CeluloseOnline – Durante todo esse tempo de atuação, e na
sua concepção, o que diria que é preciso para ser um bom escritor?
Menalton Braff – Sem dúvidas, a primeira coisa que precisa é
de muita leitura. Precisa conhecer não apenas a literatura de hoje, mas também
os clássicos e entender todo o caminho que foi percorrido por ela,
principalmente a partir do século 19. Porque escrever não é apenas contar uma
história, tem que saber o que está fazendo, ter consciência do seu espaço,
visão de mundo. Dois: além de tudo isso, muita disciplina. Na prosa literária,
no romance, precisa criar o hábito de todo dia ter uma hora que você senta e
escreve, ou, no mínimo, tenta. Mesmo que não saia nada, você precisa ficar ali
tentando. Eu diria que esses são os pilares: leitura, conhecimento e
disciplina.
CeluloseOnline – Por que você acha que ainda falta interesse
na leitura do público, principalmente, o jovem?
Menalton Braff – Nessa questão há uma observação para fazer:
a falta de interesse sempre existiu. O jovem de toda época foi avesso à
leitura. A maioria dos meus colegas de sala preferia futebol à literatura.
É uma questão cultural. A gente não pode esquecer que o
Brasil é um país que vem de um escravismo até o século 19. Escravismo
analfabeto, diga-se de passagem. Acontece que o processo de alfabetização no
Brasil é recente. Lembro-me que quando eu era criança mais de 50% das pessoas
não sabiam ler, nem escrever.
CeluloseOnline – Partindo do seu histórico, qual é a emoção
de receber a homenagem hoje?
Menalton Braff – Realmente, eu vou dizer que não é só que me
encanta é que me compensa porque a vida do escritor, em alguns sentidos, é uma
vida sofrida. Eu preciso abrir mão de um monte de coisas para produzir. Então,
em uma hora dessas, eu digo que valeu a pena. E dá um novo ânimo, vontade de
fazer mais.
CeluloseOnline
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