Aider Cruz Oliveira |
Os participantes do Grupo de leitura Dom Quixote leram o
livro “Contagem Regressiva" de Vanessa Maranha e reuniram-se para, a
apreciação do mesmo no último domingo do mês.
Foi destacado que, no princípio da leitura, e talvez
sugestionado pelo título, o leitor tem a impressão de que a personagem João, um homem já maduro e com
filhos adultos que decide pela
auto-internação, em um hospital psiquiátrico, vai ter o tempo final de sua vida
narrado.
Entretanto, não é isso que ocorre, pois a narrativa flui do
tempo presente para o passado, numa criativa inversão numérica de partes, que
começa com a de numero III e vai até a de número I. As partes são divididas em capítulos com a narração
feita basicamente em primeira pessoa, com exceção do capítulo 8, único da parte
II, que é feito em terceira pessoa imitando talvez uma ponte entre a idade
adulta e a infância.
Foi destacado que, em toda a obra, a linguagem é enxuta,
limpa de adjetivos ou advérbios desnecessários e que há uma adequação do plano
de expressão à narrativa de acontecimentos da infância e bem como à narrativa
dos acontecimentos da vida adulta. A
poesia, imiscuída na prosa, já se percebe, nas primeiras páginas, com construções
do tipo“...um ouriço cheio de fingimentos de ser macio”( p 15), “...O corpo vai
sendo lavrado e assim inventaria a
vida.”( p 21). Também, nos títulos, há esse cuidado poético como em “histórias
alheias costuram o mundo” ou “voos desabridos”, só para citar dois deles.
Quanto à temática, foi unânime a constatação de que permeiam
o texto as questões da finitude, da loucura e da eterna tentativa de o homem
ler-se no relato de suas memórias. Foi, ainda, observada a estratégia utilizada
pela autora de inserir os episódios de violação de correspondência feita pelas
crianças, para dar ensejo a temas relacionados a outras questões humanas como a
inveja, a dúvida, a ambição, entre outros.
O livro conta a história de João. O João-criança é rodeado
por figuras femininas marcantes e por figuras masculinas pouco palpáveis: um
pai quase ausente, um avô morto e um anjo inventado. O João-adulto não se
entende com os filhos; tem mais de um casamento desfeito; interna-se por
vontade própria num manicômio; apaixona-se pela juventude e beleza de uma
enfermeira e é rejeitado por ela; aceita a aventura de uma relação não motivada
pelos atrativos físicos, mas através da qual encontra algum aconchego. João faz
escolhas e vai vivendo a que é possível viver.
Parece tudo muito simples
dito assim resumidamente, mas no modo peculiar de contar a história de João, a
autora pinta cenas, sugere intenções e, sobretudo, não fecha portas à
participação do leitor experiente e inventivo.
Muito bom :) !
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