Esta coluna reúne textos de Menalton Braff sobre livros de outros escritores, mitos deles publicados como orelhas.
UMA HORA ACABA
Sobre a competência narrativa da Vanessa Maranha muito já se falou, mas preciso continuar falando. Sobre sua competência linguística, por mais que se fale, fica-se em débito para com a autora.
O romance Contagem regressiva foi finalista do Prêmio SESC de Literatura e editado pelo Selo Off Flip, em 2014.
É de seu portal que transcrevemos este parágrafo de caráter epigramático;
Uma hora acaba. A insônia, as tormentas, o aluvião, o tédio, a dor, o coração chagado. Uma hora isso de cismar entre pessoas sem ter o que dizer, nem querer dizer, nem saber o que e para que, isso de não gritar na hora certa, de me encolher e me distender em acrobacias para ser aceitável... Isso acaba. Vai um dia com o vento ou pelo ralo, na oblíqua intenção, no quadrado dessa minha queixa. Ou se volatiza no fogo-fátuo das coisas mortas.
Só uma consciência muito aguda da condição humana tem o direito de dizer o que o narrador deste romance diz já na abertura de sua história. Sim, porque a despeito do estilo reflexivo e nervoso, em que mais importa a interioridade da personagem do que suas ações, apesar disso, existe uma história.
E a história que o narrador nos oferece é realmente uma contagem regressiva. A narrativa começa quando a vida já está perto do fim. Eis a primeira parte de uma estrutura em que fica invertida a