
Evandro é o autor do conto a seguir:
Caminho mais uma vez pelas avenidas desta cidade
apressurada, cuja atmosfera permanece suja. Possivelmente procuro tempo todo o
imprevisto. Caminho - eu, a melancolia e seus apetrechos sombrios. Meu
semblante, este sim, continua resignado. Acho que sou melancólico artificial.
Seja como for, ainda tenho saudade dos meus joviais tempos de embriaguez
absoluta. Hoje vivo assim: afeiçoado à ociosidade lírica; escrevendo feito
agora numa mesa de confeitaria. Fingindo conjecturas: posando de escritor para
moça sentada sozinha à minha esquerda. Não tem entusiasmante beleza. Pouco
importa: juventude traz em si aspecto luzidio, reluzente. Olhei para ela duas,
três vezes sem entusiasmo - já não encontro mais devassidão nem mesmo nele meu
olhar. Sei que ela nunca será minha confidente: jovem demais para gastar tempo
ouvindo retrospectivas lamuriosas. Eu? Tenho grande passado pela frente. Sim:
tempo todo reatiçado pelas reminiscências. Envelhecer é olhar sempre para trás
– mulher de Lot em tempo integral. Assim como os chineses veem as horas no olho
dos gatos, também vi agora as horas no olho daquela jovem: já é muito tarde
para mim.
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