quinta-feira, 2 de abril de 2015

QUESTÕES DE ESTÉTICA DA LITERATURA (132)



Novalis
Quando o texto é muito denso, extrair a ideia principal é mutilar algo impossível de ser parafraseado. Portanto, e para não mutilar o pensamento do Dr. Vítor Manuel de Aguiar e Silva, continuemos transcrevendo o capítulo 3.13, na página 333 do livro que estamos estudando.

"Semelhante problemática da comunicação literária permite reequacionar, em termos novos, a questão da literatura como meio específico de conhecimento - uma questão já debatida na filosofia platónica e na Poética de Aristóteles e que adquiriu uma importância fundamental com o romantismo e com a literatura e a poética pós-românticas (simbolismo, surrealismo, formalismo russo, etc.). No seu extremo limite, a concepção da literatura como conhecimento tende para uma concepção órfica da comunicação literária (mais particular e restritivamente, da comunicação poética): o escritor, ao emitir o seu texto, não só transfigura o real nomeado ou aludido, mas reinventa e instaura o próprio real, o real absoluto - Die Poesie ist das echt absolut Reelle, nas palavras de Novalis -, com a urdidura encantatória do seu discurso.



Se o mito de Orfeu representa as virtualidades cognitivas da comunicação literária, o mito de Prometeu simboliza a capacidade de a comunicação literária contribuir para transformar o real - o real antropológico e o real histórico-social - em virtude das influências cognitivas, emotivas e volitivas exercidas pelos textos literários nos seus receptores e pela possível co-acção destes mesmos textos na génese e no desenvolvimento de correntes de opinião pública, na conformação de vectores relevantes da consciência colectiva generalizada e da consciência colectiva particularizada e na emergência de novas visões do mundo. Tais influências, coincidentes muitas vezes, mas não sempre - com as intenções do emissor, variam, para além de diferenças de âmbito individual, com o circustacialismo histórico e social da recepção das obras literárias, com a temporalidade das consciências leitoras e dos actos de leitura através dos quais se concretizam, numa interacção inextricável de liberdade e determinação, os  significados do texto. Nestas variações de carácter transindividual, ocorrentes tanto no plano diacrónico como no plano sincrónico, desempenham uma função importante, em geral, os agentes da metacomunicação literária."

(CONTINUA)

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