quinta-feira, 14 de maio de 2015

QUESTÕES DE ESTÉTICA DA LITERATURA (138)

Continuemos transcrevendo fragmentos do capítulo Os estudos literários na era dos extremos, do prof. Alfredo Bosi, em seu "Literatura e resistência".

"Olhemos de perto essa faixa que corresponde a um dos extremos. Essa literatura, seja nas formas brutalistas de crônica policial, seja quando recorre a um imaginário estereotipado, neo-hollywoodiano, seja provida de elementos picantes ou aterrorizantes, é a literatura para-massas, é o best-seller, mas não só: os seus procedimentos acabaram entrando, involuntária e depois voluntariamente, no tecido da ficção contemporânea. O que estava confinado ao thriller e à pornografia rompeu as barreiras do best-seller  comercial e entrou fundo nos hábitos estilísticos do contista e do romancista presumidamente culto, ou, pelo menos, portador de um curso universitário.
Chamemos a essa tendência de literatura-de-apelo, já que se trata de uma concepção de escrita como imediação, documento bruto ou entretenimento passageiro, de superfície; exatamente o contrário do que Croce e Adorno, dois hegelianos, um de centro, o outro de esquerda, diziam que a arte é ou deveria ser."



(...)
"Tampouco se pode ignorar a presença daqueles procedimentos-de-efeito na literatura que nos habituamos a considerar 'culta', e que vira assunto de resenhas críticas e até de teses universitárias. O brutalismo corrente na mídia entra na ficção contemporânea mediante uma concepção e uma prática hipermimética do texto. E, na medida em que os diversos espaços sociais que a produzem e a consomem são descotínuos e heterogêneos, foram-se criando subconjuntos literários diferentes na temática, mas que tendem a ser homogêneos enquanto todos retomam a concepção hipermimética da escrita.  Surgiram, desde pelo menos os anos 70, uma literatura e uma crítica feminista, uma literatura e uma crítica de minorias étnicas (os exemplos americanos do romance negro e do romance chicano são bem conhecidos), uma literatura e uma crítica homossexual, uma literatura e uma crítica de adolescentes, ou de terceira idade, ou ecológica, ou terceiro-mundista, ou de favelados etc. etc. O que as diferencia é o público-alvo; o que as aproxima é o hipermimetismo, o qual, no regime da mercadoria em série, cedo ou tarde acaba virando convenção.

(CONTINUA)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças