quinta-feira, 9 de julho de 2015

QUESTÕES DE ESTÉTICA ESTÉTICA DA LITERATURA (146)

Austin Warren
A questão dos gêneros já se aproxima dos conceitos contemporâneos. Continuemos.

"Ao definir o género literário como uma entidade invariante, o classicismo concebia-o segundo uma perspectiva a-histórica ou meta-histórica, indissociável do princípio doutrinário de que a essência de cada género tinha sido realizada de modo paradigmático e inultrapassável nas literaturas grega e latina. O género literário é assim entendido como um universo temático-formal rigidamente fechado, insusceptível de ulteriores desenvolvimentos ou mutações. E, com efeito, a poética clássica será particularmente afectada, nos seus fundamentos e na sua coerência global, pelo aparecimento de novos géneros literários, desconhecidos dos gregos e dos latinos e refractários às normas formuladas por teorizadores e preceptistas, bem como pelas novas características algumas vezes assumidas por géneros tradicionais. Quando se tende para a afirmação da historicidade dos géneros literários, tende-se também logicamente para a negação do seu carácter estático e imutável e para a negação dos modelos e das regras considerados como valores absolutos.


Outro aspecto importante da doutrina clássica dos géneros literários consiste na hierarquização estabelecida entre os diversos géneros, distinguindo-se os gérneros maiores dos géneros menores. Esta hierarquização não se fundamenta exclusiva, ou mesmo predominantemente, em motivos hedonísticos, como parece admitir Warren, isto é, no prazer maior ou menor suscitado no receptor pelos textos integráveis nos vários géneros. Tal hierarquia correlaciona-se antes com a hierarquia que se acredita existir entre os vários conteúdos e estados do espírito humano: a tragédia, que imita a inquietude e a dor do homem ante o destino e a epopeia, imitação eloquente da acção heróica e grandiosa, são logicamente valoradas como géneros maiores, como formas poéticas superiores à fábula ou à farsa, por exemplo, classificadas como géneros menores, visto que imitam acções, interesses e estados de espírito de ordem menos elevada. Esta hierarquia dos géneros relaciona-se também com a diferenciação do estatuto social das respectivas personagens ou dos ambientes característicos de cada género: enquanto a tragédia e a epopeia apresentam como personagens principais reis, grandes senhores, altos dignitários e heróicos capitães, a comédia escolhe em geral as suas personagens na classe média ou burguesa e a farsa procura as suas entre o povo."

(CONTINUA)

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