A flauta, cheia de si,
aguarda o sinal da batuta.
É sua estréia na orquestra,
mas não treme nem tem medo,
sabe de cor a melodia.
O maestro pisca um olho
e o silêncio é instantâneo:
todos de olho na flauta.
Enche o peito e solta a voz.
Cochichado, bem baixinho,
como exige a partitura: pianíssimo.
Fió-fóóó fió-fóóó fió-fóóó!
Baixinho que mal se ouve.
Sozinha.
Enquanto descansa e toma fôlego,
seu filho flautim canta uma frase só -
agudinha fri-fri-fri,
gritinho de doer no ouvido.
E a flauta já refeita recomeça:
fió-fóóó fió-fóóó!
De repente não está mais só.
De trás vem uma voz rouca:
pó-pó-pó pó-pó-pó pó-pó-pó-po-ró
E ela reconhece a voz
de seu compadre fagote.
Em seguida, (que beleza!)
aquela voz
de veludo:
é sua vizinha clarineta -
muito doce, quase triste.
Então entram as cordas,
uma atrás da outra:
viola, violino, contrabaixo e violoncelo
todos juntos a cantar.
Ninguém mais fica de fora:
a tuba, o oboé e o tímbale
a trompa, o
trombone e o trompete
Cada qual no seu lugar,
até o momento final.
Orgulhosa de seu papel,
a flauta lambe os lábios feliz
e recebe sorridente
a parte que lhe cabe
de todos aqueles aplausos.
Também toquei a flauta com o menino...
ResponderExcluirE eu ouvi, Alexandre.
ResponderExcluir