quarta-feira, 30 de setembro de 2015

BATE-PAPO NA CADEIA

No dia 28 de setembro passei por uma experiência humana das mais ricas: visitei o Centro de Ressocialização Masculina de Araraquara. Cerca de vinte e poucos detentos, pertencentes ao Clube de Leitura da instituição prisional, leram, por escolha do grupo entre os livros disponíveis em sua biblioteca, meu romance Que enchente me carrega? Sabendo que moro na região, os detentos acharam que deveriam bater um papo comigo.

Veio daí o convite da Funap, entidade que trabalha pela ressocialização dos detentos, e é evidente, minha imediata concordância, pois me fascinou a ideia de conversar com um grupo alijado do convívio social. Neste sentido, meus agradecimentos ao Sílvio Luís do Prado, gerente regional da Funap.

Depois de uma introdução em que descrevi a gênese do romance, imagens, situações, personagens, motivações, e isso por mais de uma hora, foi aberto o momento para o pinguepongue.


Que enchente me carrega?, é preciso que se diga, não é um romance de fácil leitura, em virtude das técnicas narrativas empregadas, com predomínio do fluxo de consciência e sua alinearidade. Pois bem, fiquei impressionado com o nível das perguntas e dos comentários que ouvi.
Me encantou a paródia que eles criaram e apresentaram na ocasião, cantando acompanhados de um violão e uma flauta transversa. *

O diretor da unidade prisional, Dr. Tuca, pessoa extremamente gentil e por isso estimado pelos 209 detentos do local, para finalizar fez questão de me conduzir por algumas das instalações do presídio, passeio em que, além dos aspectos físicos proporcionou-me um contato humano que me emocionou. Voltei para casa modificado.

* A apresentação foi gravada e prometeram passar o link.





3 comentários:

  1. Que alegria saber que existem detentos que tem essa oportunidade. Que emoção. Parabéns a você Menalton, parabéns a esses detentos. Isso com certeza faz a nossa vida melhor!

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  2. Verdade, Maria Aparecida. O que vi me reforçou a esperança quase perdida na viabilidade do ser humano.

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  3. Quando sonhei o Clube da Leitura nesta Unidade, sabia que seria um sucesso, mas não tinha noção do impacto imediato que causaria na vida de todos nós. Mais do que ler, o projeto tem nos mostrado que viver é preciso. O contato com novas ideias, diferentes estilos e a possibilidade de contribuir e aprender com o próximo, tem nos impulsionado a acreditar nos sonhos. Somos todos seres humanos com capacidade cognitiva e intelectual, sendo assim capazes de entender a história e assumirmos a responsabilidade de mudá-la...a começar em nós.
    A leitura coloca-nos em contato com o mundo, tira-nos da mesmice e faz-nos refletir, além de ampliar horizontes.
    Os membros do Clube tem apresentado motivação na participação fazendo paralelos do texto estudado com a atualidade vista na mídia (Televisão e rádio) e vivência pessoal, enriquecendo assim as discussões. Bem como, por iniciativa própria, buscado outros meios para fixar o assunto, tais como músicas e vídeos.
    A assiduidade e pontualidade dos membros nos encontros permite-nos acreditar no sucesso do projeto.
    Dias antes de sua visita, Menalton, disse aos reeducandos que quando criança ia para a mesa fazer as refeições motivada pela sobremesa...aquela pequena porção me fascinava, fazia com que eu comesse até o que não gostava, a fim de receber minha recompensa. Comparo o Clube da Leitura ao prato principal, por vezes será delicioso e devoraremos o livro, por vezes não nos agradará tanto...e naquela ocasião teríamos uma sobremesa especial...um momento que adoçaria a nossa vida e faria valer a pena cada letra degustada: A VISITA DO ESCRITOR. Disparamos então a contagem regressiva...tanta ansiedade, tempestade de perguntas a fazer... Infelizmente no dia tive problemas mecânicos com o carro e fiquei impossibilitada de deslocar-me a Unidade, porém quando retornei, pude saborear com os compartilhamentos dos reeducandos, e pensei: "Olha a nossa sobremesa... o encontro foi um bolo de chocolate, cada um ganhou um pedaço e todos aqui guardaram um tiquinho pra mim..." Ao ouvir os depoimentos, chorei de emoção...Felicidade não cabe em palavras, felicidade não cabe no coração...transborda e contagia! Muito obrigada pela diferença que fez entre nós! Abraço da nova amiga, Val.

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