Leitura resulta em "terapia" no CR masculino
de Araraquara
Grupo de reeducandos se
reúne semanalmente para discutir capítulos de um determinado livro; resultado é
positivo
Araraquara.com
/ Gabriela Martins
Foi por meio da leitura que cerca de 30
membros do projeto Roda de leitura – Palavra Mágica, do Centro de
Ressocialização (CR) masculino de Araraquara - estão ganhando ‘liberdade’,
mesmo estando presos. “Acho que só esse ano li cerca de 30 livros de diversos
gêneros. É um hábito que criei e que faz com que eu me sinta bem”, conta
Marcelo (nome fictício), de 34 anos, preso há quatro meses por tráfico de
drogas.
De
acordo com Marcelo, o hábito da leitura teve início ainda na penitenciária de
Serra Azul, onde participava de ciclos de leitura realizados pela editora
Companhia das Letras. “No começo não foi fácil ficar preso, mas a leitura me
ajudou muito. Agora volto mais amadurecido para encarar o mercado competitivo
que há lá fora”, ressalta.
João
(nome fictício), 37, também preso por tráfico, diz que através da leitura
encontrou um meio de se sentir livre, mesmo dentro do CR. “Nós ficamos
limitados aqui dentro. Por isso, todos os dias eu leio, pois são os livros que
me fazem viajar. Eles ainda me ajudaram a ter ideiais para novos projetos e
novos trabalhos, que pretendo colocar em prática quando sair daqui. Esse tempo
preso é uma lição, mas quando sair quero seguir em frente”, ressalta.
O
projeto - O projeto de leitura no CR conta com encontros semanais, onde os
membros do grupo se unem para debaterem os capítulos dos livros lidos.
Na
semana em que a reportagem visitou o CR, o grupo havia lido “Que enchente me levou”,
de Menalton Braff. “É uma história que te prende do começo ao fim. Mas é
preciso ler de duas a três vezes para entender o que estava escrito nas
entrelinhas, o que o autor está querendo passar”, ressalta um dos internos.
O
último capítulo do livro acabou ganhando uma presença a mais, a do próprio
escritor, Braff.
Ele
conta que nunca entrou em um presídio, mas acabou se surpreendendo com o
encontro. “Me informaram que meu livro seria debatido e me convidaram para
participar. Eu não poderia recusar. Eles falaram do livro com muita
propriedade, perceberam detalhes que nem os leitores mais acíduos conseguiram.
Fiquei muito surpreso com a interlocução”.
Melhoria
- Para o diretor da unidade, Carlos Eduardo Serraglio, é por meio da leitura
que a pessoa descobre o mundo e passa enxergar as coisas de uma maneira
diferenciada. “Com a leitura, eles aprendem a conhecer o ser humano e a se
colocar no lugar do próximo. Com isso, eles passam a ter uma visão mais ampla e
não periférica, passam a enxergar o mundo de forma diferente ”, acredita.
Ainda
de acordo com o diretor do CR, para a direção é gratificante. “Desses
encontros, muitos frutos estão sendo colhidos. A leitura abre os olhos e a
mente”, finaliza.
Reeducandos
fazem sátira - “Elvira, será que você existe. E esse ‘tar’ de Godofredo, tá me
tirando o sossego”. A sátira é do livro “Que enchente me levou”, de Menalton
Braff. Foi feita pelos reeducandos do CR Masculino e apresentada ao escritor
com voz, violão e flauta.
Henrique
(nome fictício), 33, preso há mais de quatro anos na unidade por homicídio,
conta que a sátira surgiu com o intuito de trazer a participação dos mais
introvertidos do grupo. “Nós fizemos a música para alegar nosso encontros e
fazer com que aqueles mais introvertidos participassem mais, já que a ideia do
grupo é compartilhar ideias e ver os diferentes pontos de vista de um mesmo
livro. Você começa se sentindo obrigado a ler para debater na reunião, mais
depois você vai sentindo uma imensa vontade de ler cada vez mais”, explica
Henrique.
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