domingo, 3 de janeiro de 2016

DEGUSTAÇÃO 13 – GAMBITO

Hoje a Degustação é para as crianças. Publicamos, a seguir, o primeiro capítulo da primeira obra infantil de Menalton Braff, intitulada GAMBITO e editada pela Edições SM, em 2005.

Para saber mais, acesse a página do livro aqui no BLOG DO MENALTON
 

Menalton Braff  Gambito

Capítulo 1

Às vezes me parece que gosto dele, mas isso não é sempre. Muitas coisas em meu irmão me irritam muito. Quando ele sai, por exemplo, faz questão de sair sozinho. E me chama de pirralho, o que me dá muita raiva. Pensando bem, acho que nem conheço o Maurício direito. A gente nunca está junto. Principalmente agora, que ele terminou a quinta série. De manhã, fica na escola até o meio-dia. À tarde, ele tem judô, inglês, natação e não sei mais o quê. De noite, que a gente podia conversar um pouquinho, ele faz os deveres da escola e quando termina já está na hora de dormir. Nós dormimos no mesmo quarto como se cada um morasse num país diferente. Eu, além da escola, não faço mais nada. Quer dizer, faço minhas lições, assisto a algum programa na televisão, escovo os dentes, tomo banho, troco de roupa e como. Gosto muito de comer.

Era nossa última semana de férias e eu já tinha certeza de que nunca tinha comido tanto na minha vida. Além disso, que tornava nossas férias o melhor período do ano, o Maurício passava os dias inteiros
comigo. Até tarde da noite, nós dois, muito irmão um do outro, ficávamos conversando sobre as experiências vividas durante o dia ou sobre nossa vida comum, do apartamento. De longe, ali na casa da vovó, deu pra ver que a vida nem era tão comum assim.

Sentados num banco largo e branco de ripas de madeira, no alpendre, o Maurício apontava alguma estrela e dizia seu nome, contava alguma história. Aquilo me parecia uma chatice muito grande, mas eu não podia perder a oportunidade de ficar perto de meu irmão. A claridade da sala invadia nossa noite por duas janelas abertas, iluminando dois trechos do alpendre. Nós estávamos sentados bem longe da luz, lá onde termina a frente da casa. Eu não sabia se prestava atenção na conversa do Maurício ou nas histórias engraçadas que alguém contava na sala. Meus avós e meus pais e mais um tio do interior conversavam alto e soltavam gargalhadas.
De repente o Maurício parou de olhar para cima e o que ele disse me tirou todo interesse pelo que se passava dentro da sala.

– Você está vendo como o céu está estrelado?

– Claro.

– É sinal de bom tempo. Você quer pescar comigo amanhã no Rio das Pedras?

– Mas não é muito longe?

– É um pouquinho, mas eu conheço um atalho que passa por dentro da fazendo do tio Virgílio.

– Então eu quero, sim.

–  Mas a gente tem de sair antes do Sol nascer.

– Ainda escuro?

– Com o céu ainda cheio de estrelas.

– Não faz mal. Eu quero assim mesmo.

Foi uma noite difícil. A ansiedade me acordou de hora em hora. Tínhamos deixado tudo pronto, com a ajuda de meu avô. Matula, tralha, tudo pendurado desde a véspera na parede do alpendre.
                                                                     *


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