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Menalton
Braff – Gambito
Capítulo 1
Às vezes me parece que gosto dele, mas isso não é sempre.
Muitas coisas em meu irmão me irritam muito. Quando ele sai, por exemplo, faz
questão de sair sozinho. E me chama de pirralho, o que me dá muita raiva.
Pensando bem, acho que nem conheço o Maurício direito. A gente nunca está
junto. Principalmente agora, que ele terminou a quinta série. De manhã, fica na
escola até o meio-dia. À tarde, ele tem judô, inglês, natação e não sei mais o quê.
De noite, que a gente podia conversar um pouquinho, ele faz os deveres da
escola e quando termina já está na hora de dormir. Nós dormimos no mesmo quarto
como se cada um morasse num país diferente. Eu, além da escola, não faço mais
nada. Quer dizer, faço minhas lições, assisto a algum programa na televisão,
escovo os dentes, tomo banho, troco de roupa e como. Gosto muito de comer.
Era nossa última semana de férias e eu já tinha certeza de
que nunca tinha comido tanto na minha vida. Além disso, que tornava nossas férias
o melhor período do ano, o Maurício passava os dias inteiros
comigo. Até tarde
da noite, nós dois, muito irmão um do outro, ficávamos conversando sobre as
experiências vividas durante o dia ou sobre nossa vida comum, do apartamento.
De longe, ali na casa da vovó, deu pra ver que a vida nem era tão comum assim.
Sentados num banco largo e branco de ripas de madeira, no
alpendre, o Maurício apontava alguma estrela e dizia seu nome, contava alguma
história. Aquilo me parecia uma chatice muito grande, mas eu não podia perder a
oportunidade de ficar perto de meu irmão. A claridade da sala invadia nossa
noite por duas janelas abertas, iluminando dois trechos do alpendre. Nós
estávamos sentados bem longe da luz, lá onde termina a frente da casa. Eu não
sabia se prestava atenção na conversa do Maurício ou nas histórias engraçadas
que alguém contava na sala. Meus avós e meus pais e mais um tio do interior
conversavam alto e soltavam gargalhadas.
De repente o Maurício parou de olhar para cima e o que ele
disse me tirou todo interesse pelo que se passava dentro da sala.
– Você está vendo como o céu está estrelado?
– Claro.
– É sinal de bom tempo. Você quer pescar comigo amanhã no
Rio das Pedras?
– Mas não é muito longe?
– É um pouquinho, mas eu conheço um atalho que passa por
dentro da fazendo do tio Virgílio.
– Então eu quero, sim.
– Mas a gente tem de
sair antes do Sol nascer.
– Ainda escuro?
– Com o céu ainda cheio de estrelas.
– Não faz mal. Eu quero assim mesmo.
Foi uma noite difícil. A ansiedade me acordou de hora em
hora. Tínhamos deixado tudo pronto, com a ajuda de meu avô. Matula, tralha,
tudo pendurado desde a véspera na parede do alpendre.
*
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