segunda-feira, 13 de junho de 2016

ELY VIEITEZ LISBOA RESENHA O PESO DA GRAVATA

O PESO DA GRAVATA

(*) Ely Vieitez Lisboa

Quando Menalton Braff lançou o livro Bolero de Ravel, fui convidada por Irene Coimbra para uma entrevista na televisão, no seu programa Ponto&Vírgula, para falar sobre o romance. Uma das perguntas que ela me fez era qual eu apreciava mais, se o Menalton contista ou o romancista. Até hoje não sei a resposta.

Recebi esses dias, da Primavera Editorial, o livro mais recente de Menalton, O Peso da Gravata, título do primeiro conto. Ora, não tenho o hábito de ler mais de um livro de cada vez. Gosto de saborear a obra devagar, grifando tudo que me atrai. Acontece que estava lendo o romance de Matheus Arcaro, O Lado Imóvel do Tempo, gostando muito, grifando, esmiuçando, que é a única maneira que sei de ler literatura séria.


Como os dois autores são muito bons, estabeleci, de acordo com minhas normas costumeiras, terminar o romance, para depois me deliciar com os contos. Mas principiei, como sempre, a examinar as orelhas, a ficha catalográfica, a capa, a contracapa. Aí, fui vencida pela minha curiosidade. Li o primeiro conto. Então cometi pela primeira vez, um pecado mortal literário. Aqui estou eu a escrever apenas sobre o conto O Peso da Gravata. Pedi licença ao Matheus e voltarei logo após ao seu intrigante romance.

O que me atrai em Menalton Braff: primeiro é a fertilidade de sua produção literária. Como está escrito na segunda orelha do novo livro: Com vinte e dois livros publicados e um prêmio Jabuti na bagagem, ele dedica todo seu tempo a atividades literárias. Já foi um dos finalistas da Jornada de Passo Fundo, em 2003 e finalista do Jabuti em 2007, com o volume de contos A coleira no pescoço e em 2008 com o romance A muralha de Adriano. E não para aí. De 2013 a 2015, lançou o romance O casarão do Rosário, os juvenis O fantasma da segundona e Castelo de areia, ainda mais: completou a trilogia com os livros Pouso do sossego e Tapete de silêncio.

O que me fascinou no conto O Peso da Gravata? Sei que Menalton vai reclamar. Isto não se faz! Como pode ler em um livro de contos, apenas o primeiro e escrever somente sobre ele? Não é coisa de gente séria! E o todo da obra?! Mas, querido Menalton, o primeiro conto me encantou tanto, que precisei de fazer este preâmbulo. Além do mais, a curiosidade me arrasta para o romance de Matheus Arcaro. Você me perdoa? Do que gostei no seu conto o Peso da Gravata, além da metáfora inteligente do título?

Primeiro, algo que já repeti de você como escritor: É sua característica de estilista. Suas obras são lições de uma forma extremamente bem cuidada. No excelente conto O Peso da Gravata, uma lição de síntese. Em dezenove linhas, o autor expõe o drama da personagem principal, Gonçalo, quase explodindo, preso na sua vida complexa, cheia de compromissos, enquanto o aparelho maldito, o celular, não para de tocar. E mais, apresenta algumas personagens secundárias, exprime em uma linguagem forte, coloquial e em uma pincelada rápida, descreve a paisagem com uma bela metáfora (na realidade, uma personificação ou animismo).

De repente, a salvação, o verde, o parque e pela primeira vez Gonçalo repara na estátua, “a índia de bronze, uiraçaba pendente do ombro e arazóia presa à cintura”. Para Gonçalo, símbolo da libertação. E ele vai se despindo diante das pessoas estupefatas. Como se não bastasse o inusitado, MB brinda o leitor com um belo final em realismo fantástico: Gonçalo e Iracema, enlaçados saem valsando, ele e sua amante! A beleza do conto: ousadia, criatividade, magia, puro encantamento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças