O PESO DA GRAVATA
(*) Ely Vieitez Lisboa
Quando Menalton Braff lançou o livro Bolero de Ravel, fui
convidada por Irene Coimbra para uma entrevista na televisão, no seu programa
Ponto&Vírgula, para falar sobre o romance. Uma das perguntas que ela me fez
era qual eu apreciava mais, se o Menalton contista ou o romancista. Até hoje
não sei a resposta.
Recebi esses dias, da Primavera Editorial, o livro mais
recente de Menalton, O Peso da Gravata, título do primeiro conto. Ora, não
tenho o hábito de ler mais de um livro de cada vez. Gosto de saborear a obra
devagar, grifando tudo que me atrai. Acontece que estava lendo o romance de
Matheus Arcaro, O Lado Imóvel do Tempo, gostando muito, grifando, esmiuçando,
que é a única maneira que sei de ler literatura séria.
O que me atrai em Menalton Braff: primeiro é a fertilidade
de sua produção literária. Como está escrito na segunda orelha do novo livro:
Com vinte e dois livros publicados e um prêmio Jabuti na bagagem, ele dedica
todo seu tempo a atividades literárias. Já foi um dos finalistas da Jornada de
Passo Fundo, em 2003 e finalista do Jabuti em 2007, com o volume de contos A
coleira no pescoço e em 2008 com o romance A muralha de Adriano. E não para aí.
De 2013 a 2015, lançou o romance O casarão do Rosário, os juvenis O fantasma da
segundona e Castelo de areia, ainda mais: completou a trilogia com os livros
Pouso do sossego e Tapete de silêncio.
O que me fascinou no conto O Peso da Gravata? Sei que
Menalton vai reclamar. Isto não se faz! Como pode ler em um livro de contos,
apenas o primeiro e escrever somente sobre ele? Não é coisa de gente séria! E o
todo da obra?! Mas, querido Menalton, o primeiro conto me encantou tanto, que
precisei de fazer este preâmbulo. Além do mais, a curiosidade me arrasta para o
romance de Matheus Arcaro. Você me perdoa? Do que gostei no seu conto o Peso da
Gravata, além da metáfora inteligente do título?
Primeiro, algo que já repeti de você como escritor: É sua
característica de estilista. Suas obras são lições de uma forma extremamente
bem cuidada. No excelente conto O Peso da Gravata, uma lição de síntese. Em
dezenove linhas, o autor expõe o drama da personagem principal, Gonçalo, quase
explodindo, preso na sua vida complexa, cheia de compromissos, enquanto o
aparelho maldito, o celular, não para de tocar. E mais, apresenta algumas personagens
secundárias, exprime em uma linguagem forte, coloquial e em uma pincelada
rápida, descreve a paisagem com uma bela metáfora (na realidade, uma
personificação ou animismo).
De repente, a salvação, o verde, o parque e pela primeira
vez Gonçalo repara na estátua, “a índia de bronze, uiraçaba pendente do ombro e
arazóia presa à cintura”. Para Gonçalo, símbolo da libertação. E ele vai se
despindo diante das pessoas estupefatas. Como se não bastasse o inusitado, MB brinda o
leitor com um belo final em realismo fantástico: Gonçalo e Iracema, enlaçados
saem valsando, ele e sua amante! A beleza do conto: ousadia, criatividade,
magia, puro encantamento.
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