O Peso da Gravata, de Menalton Braff – Primavera Editorial
RESENHA (Nadja Moreno)
Leia O Peso da Gravata sem amarras e sem “pré-conceitos”.
Ler esta obra é praticamente o mesmo que entrar na mente de Braff e enxergar
como ele enxerga a rotina e o comum e os transforma em um caleidoscópio de
percepções, visões, imagens, sentimentos e conclusões. Parece um tanto fragmentado
à princípio em alguns pontos, por sua forma peculiar de construir as frases,
mas na verdade o que se constata é uma exclusão total e sem remorsos daquilo
que é intrínseco e dedutível ao se ler… um excelente exercício de percepção e
de envolvimento com a leitura. Incrível como não é necessário que se diga com
todas as letras o que se quer dizer, o sentido está ali e é notado facilmente.
“Um corpo enterrado numa poltrona. Eu sou um corpo enterrado
numa poltrona deste ônibus que transporta um corpo enterrado numa poltrona.
Onde? Hoje eu tive um dia muito cansativo. E tedioso. Os postes e fios
derramando luz sobre as ruas. E os ônibus sacolejantes. Meu corpo. Como chuva
de claridade do céu. A luz que escorre dos postes entra pela janela do ônibus
cansativo. Preciso atravessar a cidade antes.” […]
Alguns contos beiram o sobrenatural, como o homem que visita
o seu próprio túmulo. Outros ainda trazem um relato tão profundo do quotidiano
que o transforma, tal como o que conta do casal de idosos que há incontáveis
anos convivem (inclusive o final deste conto é magnífico, de singeleza ímpar…
uma obra de arte de uma frase). Há outros ainda que beiram a loucura, como o
que o narrador relata a simples (simples?) ida do trabalho para casa num ônibus
urbano. Quantos pensamentos nos assombram nestas horas de
aguardo? O que passa
em nossa cabeça quando observamos momentaneamente os gestos e hábitos daqueles
que encontramos nos caminhos do dia a dia? É um fervilhar que a gente nem
sempre nota, mas que está ali todo o tempo.
Algo que chama a atenção nesta coletânea de contos é a
singularidade de cada um deles. Não há uma vertente que os una, ou uma linha imaginária
que os prenda. Cada um tem um aspecto, aborda um sentimento, fala de uma
forma. Todos excelentes, todos únicos.
Não dá para citar um preferido, pois cada um mexeu comigo enquanto leitora de
uma forma diferente. Ora se encontra apoio nos padrões, ora se baseia na quebra
de paradigmas. Enfim, é uma miscelânea de assuntos e formas.
Somente pontuei com nota 4, ao invés de 5, porque justamente
esta forma um tanto poética de escrever e seu jeito único de construir frases
tenha deixado o livro um pouco moroso. Como gosto muito de leituras que sejam
fluídas e rápidas este aspecto roubou um ponto em minha avaliação – bem
pessoal, diga-se de passagem.
“Os plátanos de mãos espalmadas acenam de leve à passagem da
brisa, numa despedida sem nenhuma emoção. Dois ou três cachorros já invadiram a
rua farejando o cortejo atrás de alguma coisa que lhes fosse de proveito. Agora
estão sumidos, ficaram para trás, ocupados como sempre com sua reles
sobrevivência de cães de rua.”
A publicação da Primavera Editorial é fantástica. Capa
sugestiva, páginas em papel pólen com gramatura mais densa, que conferem uma
textura mais confortável, e apresentação de ilustrações no início dos contos em
preto e cinza que dão um efeito muitíssimo legal quando se vira a página. Surge
uma imagem ao fundo como que uma marca d´água. Super bacana!
Enfim, recomendo aos amantes de contos, e àqueles que gostam
de ma leitura mais significativa e envolvente. Leia!!!
Sobre Nadja Moreno
Mãe, professora, administradora, leitora ávida, blogueira. O
Escrev'Arte é minha segunda casa!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças