Foi nos tempos em que
militava no magistério. Em certa escola, tinha um casal de alunos em salas
diferentes. A irmã era assídua e interessada; o irmão costumava faltar. Houve
uma semana em que o garoto não me apareceu à aula em dois dias seguidos, ,
curioso, consultei a irmã sobre o que estava acontecendo com seu irmão.
A menina me contou a
história. Seu irmão era viciado no icq. O icq é o avô de programas hoje muito
populares como MSM e outros de comunicação em tempo real. Contou-me ela que, de
hábito, ficava até muito tarde da noite em bate-papos com amigos. Mas houve
ocasiões em que chegou da escola e foi direto para o computador. Na hora do
jantar, pediu que a mãe lhe mandasse um sanduíche. Mais tarde pediu à irmã que
lhe alcançasse um copo de água, porque ele não conseguia sair da frente do icq.
De manhã, seu desjejum foi feito ainda no quarto porque o papo não tinha fim.
Um pouco antes do almoço, praticamente desmaiou na cama e não houve jeito de
acordá-lo para ir à escola.
No resumo da história,
o garoto (um menino muito inteligente) acabou repetindo de ano. A história me
impressionou, mas acabou esquecida. Tempos mais tarde me lembrei do caso e
achei que precisava dizer alguma coisa aos adolescentes sobre o assunto, mas
transformando aquela história em literatura. E foi assim que nasceu Antes da meia-noite.
A Ática aprovou meu
texto, que até os dias atuais continua sendo muito adotado em escolas de Ensino
Básico e Médio.
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