O libertário
A família, a escola, a igreja, os meios mais gerais de
comunicação são os instrumentos visíveis da transmissão, conservação e reforço
de nossas crenças e valores.
As crenças e valores mais gerais são formados anonimamente
pela sociedade. Como no folclore, ninguém sabe quem disse algo pela primeira
vez. Alguém disse, é certo, porque nada nasce do nada, o que é o mesmo que não
nascer. Alguém disse e os outros começaram a repetir. Pronto, eis, por exemplo,
o Saci-Pererê. Folk é povo em inglês, como em alemão (Volk – pronuncia-se efe
para v em alemão e wagen – pronuncia-se v para w em alemão).
Bem, mas o assunto não é etimologia e temos de prosseguir.
A transmissão, a conservação e o reforço de crenças e
valores, de que não se conhece a origem, contudo, podem ser localizados. A
família, a escola, a igreja, os meios mais gerais de comunicação são os
instrumentos visíveis da transmissão, conservação e reforço de nossas crenças e
valores. Mas grandes homens da história, muitos deles, também foram e são
estrelas-guia, cujo pensamento e/ou comportamento modelam nossa visão de mundo.
Na Grande Música, entre 1770 e 1827, existiu uma dessas
personalidades que deixaram sua marca luminosa em nosso pensamento. Trata-se de
Ludwig van Beethoven, a alemão de origem holandesa,
que nasceu na cidade de
Bonn. Foi um dos maiores gênios do Romantismo musical e sinfonias suas, como a
quinta e a nona, há mais de duzentos anos, são das músicas mais tocadas no
mundo inteiro.
Pois bem, há dois incidentes na vida de Beethoven que
demonstram até que ponto ia seu pensamento revolucionário. Não podemos esquecer
que isso aconteceu no início do século XIX, quando governo republicano não
passava de um sonho de malucos.
Passeando com Goethe pelas ruas de um balneário, em Teplitz,
eis que passa a carruagem da imperatriz da Áustria. O escritor, reverentemente,
tira o chapéu e, inclinando-se, arrasta-o no chão durante a passagem do
séquito. Beethoven, a seu lado, enterra a cabeça no chapéu e continua
caminhando sem dobrar a coluna.
Quando Napoleão surge na França para desbancar os membros da
dinastia dos Bourbon, Beethoven dedica-lhe sua terceira sinfonia, a Heroica,
acreditando tratar-se de um libertador da humanidade. Pouco depois, o mesmo
Napoleão autoproclama-se imperador, e Ludwig rasura o cabeçalho da partitura
até rasgá-la, eliminando-lhe a dedicatória. Em seu lugar, ele anota “Sinfonia
heroica, composta para celebrar a memória de um grande homem".
Virtudes se transmitem e conservam muito mais pelos exemplos
do que pelos discursos. Foi um gênio em sua área e um Homem em sua natureza.
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