Estamos quase concluindo o período de comentários ao livro "Quarenta dias", de Maria Valéria Rezende, no grupo RODA DE LEITURA, que Menalton mantém no Facebook. Os que quiserem participar podem pedir adesão ao grupo.
O comentário a seguir é de Vera Lúcia Pereira dos Santos.
Quarenta dias
O romance "Quarenta Dias", de Maria Valéria
Rezende, acompanha a paraibana Alice, professora na faixa dos 50 anos, que, após
muita insistência, se vê praticamente obrigada a trocar João Pessoa por Porto
Alegre para ajudar a filha – professora universitária casada com um gaúcho –
nos planos de uma futura gravidez. É do estranhamento de Alice com Porto
Alegre, uma cidade de costumes e gentes diversos, nos quais outros nordestinos
como a protagonista parecem sempre relegados à periferia e a funções subalternas,
que Maria Valéria tece sua história. No inicio, estranhei a passividade da
personagem. Não tem coragem de externar sua opinião quando a filha, professora
universitária casada com um gaúcho, propõe sua mudança para Porto Alegre para
servir de babá do futuro neto. Afinal Alice é uma professora com vivência
suficiente para não aceitar decisões que a violentam. Realiza seu percurso
movida por inconsistentes sugestões de pessoas com que se relaciona
ocasionalmente.
Numa busca sem fim, fugindo de si própria, revive sua
trajetória por meio de uma interlocução com a estampa de Barbie num caderno que
serve de diário.
Ao chegar a Porto Alegre, surta. São quarenta dias na rua.
Uma aventura pelas ruas de Porto Alegre a pretexto de encontrar Cícero Araújo,
filho desaparecido de uma conterrânea. O nome da personagem,
o lugar
desconhecido e estranho sugere alguma intertextualidade com o livro" Alice
no país das Maravilhas". Em vez de “país das Maravilhas”, defronta-se com
o “o país das mazelas dos porto-alegrenses”, a periferia onde habitam os
nordestinos e os desvalidos de toda espécie, revelando o contraste de classes e
o preconceito que a cidade tenta camuflar.
A leitura flui facilmente, pois o nível da história
prevalece sobre o nível do discurso.
Quarenta dias, referência bíblica, remete à quaresma. Ao
final desse período de sofrimento, ocorreria a ressureição, o encontro consigo
mesma, a renovação por meio do desabafo ao escrever seu diálogo direto com um
interlocutor ficcional – ‘catarsis.’
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