sábado, 25 de novembro de 2017

ORELHA

Esta coluna reúne orelhas de livros escritas por menalton Braff.
Histórias de uma vila
 
Em "Ruínas da vila antiga", o André conta a história de sua vila natal, a Vila Tibério. Conta ou canta, conta e canta, num jogo bem a seu gosto e muitas vezes utilizado neste belíssimo livro. Ali dentro se encontram explicações sobre a origem da vila e de seus habitantes, mas encontram-se também suas lendas e crendices, o imaginário de toda uma população filha do café, seus costumes, seus valores.

Lendo "Ruínas da vila antiga", ouvimos a fala rebarbativa de filhos de escravos, como se o passado, sorrateiro e redivivo, emergisse de seus escombros para insinuar-se em nossos ouvidos, em nossas lembranças; as lembranças de que nos lembramos e aquelas que nos inventamos.

Bairro pobre, de casinhas pequenas, de trabalhadores humildes, deste povo de quem Bertolt Brecht já disse que são os verdadeiros autores da História. É nela que aos poucos vão plantando raízes imigrantes, sobretudo os italianos. Então começa um processo lento e irreversível de aculturação. O português cheio de
barbarismos dos filhos e netos de escravos, de repente, é penetrado pelo português macarrônico dos imigrantes e seus filhos. De tudo isso nasce o Brasil, bem ali na Vila Tibério.

Este movimento de formação da nacionalidade, sua lenta caminhada, anotado com senso de pesquisa, com muito humor, mas, principalmente, com sensibilidade e bom-gosto na elaboração poética, isso é com que nos brinda o André Bordini em seu mais recente livro.

Os dezesseis cânticos, seguidos de um epílogo, em que se divide o livro, são um retrato em movimento da vila. Ecos do passado, como as benzedeiras, doceiras, ruas de terra, a escola com seu muro alto, o menino de calças curtas e pés no chão, vão-se desenrolando perante nós como um calidoscópio. A modernidade, aos poucos, impõe-se irreversível e demolidora. A história de Irmã Maurina, como símbolo de tempos menos bucólicos e muito menos risonhos, em contraponto com o parquinho e o circo mambembe: as lembranças da vila mais recente, a vila que se transforma e perde sua fisionomia de vila.
            
Esta evocação da Vila Tibério, termina com as palavras do eu-lírico:
 De tudo
Ficou a lembrança lilás
De um tempo de malvas.

                                                            (Menalton Braff) 

Título: Ruínas da vila antiga
Autor: André Bordini
Editora: minhalivraria.net

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