Esta coluna reúne orelhas de livros escritas por menalton Braff.
Histórias de uma vila
Em
"Ruínas da vila antiga", o André conta a história de sua vila natal,
a Vila Tibério. Conta ou canta, conta e canta, num jogo bem a seu gosto e
muitas vezes utilizado neste belíssimo livro. Ali dentro se encontram
explicações sobre a origem da vila e de seus habitantes, mas encontram-se
também suas lendas e crendices, o imaginário de toda uma população filha do
café, seus costumes, seus valores.
Lendo
"Ruínas da vila antiga", ouvimos a fala rebarbativa de filhos de
escravos, como se o passado, sorrateiro e redivivo, emergisse de seus escombros
para insinuar-se em nossos ouvidos, em nossas lembranças; as lembranças de que
nos lembramos e aquelas que nos inventamos.
Bairro
pobre, de casinhas pequenas, de trabalhadores humildes, deste povo de quem
Bertolt Brecht já disse que são os verdadeiros autores da História. É nela que
aos poucos vão plantando raízes imigrantes, sobretudo os italianos. Então
começa um processo lento e irreversível de aculturação. O português cheio de
barbarismos dos filhos e netos de escravos, de repente, é penetrado pelo
português macarrônico dos imigrantes e seus filhos. De tudo isso nasce o
Brasil, bem ali na Vila Tibério.
Este
movimento de formação da nacionalidade, sua lenta caminhada, anotado com senso
de pesquisa, com muito humor, mas, principalmente, com sensibilidade e
bom-gosto na elaboração poética, isso é com que nos brinda o André Bordini em
seu mais recente livro.
Os
dezesseis cânticos, seguidos de um epílogo, em que se divide o livro, são um retrato
em movimento da vila. Ecos do passado, como as benzedeiras, doceiras, ruas de
terra, a escola com seu muro alto, o menino de calças curtas e pés no chão,
vão-se desenrolando perante nós como um calidoscópio. A modernidade, aos
poucos, impõe-se irreversível e demolidora. A história de Irmã Maurina, como
símbolo de tempos menos bucólicos e muito menos risonhos, em contraponto com o
parquinho e o circo mambembe: as lembranças da vila mais recente, a vila que se
transforma e perde sua fisionomia de vila.
Esta
evocação da Vila Tibério, termina com as palavras do eu-lírico:
De tudo
Ficou a lembrança lilás
De um tempo de malvas.
(Menalton
Braff)
Título: Ruínas da vila antiga
Autor: André Bordini
Editora: minhalivraria.net
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