quinta-feira, 29 de março de 2018

ORELHA

Esta coluna reúne apresentações de livros escritas por Menalton Braff.
O voo do tempo

Tive o privilégio de ler ainda em seus originais este excelente Espelhos do tempo, de Mário Massari. Desde o primeiro poema, Noturna passagem, já se descobre o grande poeta que teceu os versos deste livro, num enredamento que nos atrai e nos faz submergir nas profundezas de seu encantamento.

Conheci Mário Massari pelas mãos de seu Arabescos, outro livro de poesias, lançado em 2008. A primeira impressão, a de que se trata de poeta de muitos méritos, agora se confirma com o Espelhos do tempo. Suas metáforas, de recorte surrealista, são surpreendentes e refrescantes como gotas de orvalho nas folhas de um plátano. Com seu manejo competente da língua, o poeta recria sentidos e imanta os olhos do leitor para aquilo que é a especificidade da poesia: a palavra.

“... o suicídio coletivo e/ silencioso/ de estrelas bebendo/ o mar.” é o final do poema com que se inicia o livro, poema em que as combinações são inteiramente inusitadas, cumprindo o papel de atribuir à linguagem a preponderância do fazer poético. Não há como ler um verdadeiro poeta com o principal foco da visão indo além do texto, buscando o que se revela com as palavras. No dizer de
Jean-Paul Sartre, a literatura tem como uma de suas características as palavras coloridas, aquelas que antes de revelar o que portam, revelam-se a si mesmas.

Merecem destaque a totalidade dos poemas, algumas estrofes, entretanto, são exemplares do modo como Massari trabalha seus textos. Eis a primeira estrofe de Momentos I:

“Já tive fogo nas mãos
E vaga-lumes na garganta
E canções iluminadas
Vazavam do meu peito
Em chamas.”

A matéria humana de que se utiliza o eu poemático, são os momentos fugazes, de luz e vida, de encontros e partidas, de harmonias e saudade, que fazem parte da vida. O passado, sua infância, ao falar de seu pai, que “foi meeiro”, até o desencontro adulto desta bela estrofe:

“No dia em que partiste
Indiferente aos meus apelos
Ficou um vazio imenso
No meu dicionário.”

Falar de poeta é tarefa inglória, porque só o poeta pode poetar-se e oferecer-se desnudo em sua poesia. O Mário Massari só pode ser apreendido com a leitura de seus poemas. Vamos a eles.

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