segunda-feira, 28 de maio de 2018

CARTAS DO INTERIOR

Um sonho malogrado

Qualquer dia destes me boto na estrada rumo ao sul. Meu desejo é, além de visitar duas cidades onde passei uma temporada da adolescência, descer até São Miguel das Missões pra ver os restos de um sonho, como é que ficaram.

A história desse sonho é curta e nem sempre é encontrada nos livros didáticos de História. Não sei por quê. Ocorre que no século XVII, entrando pelo XVIII, uma das correntes no interior da Companhia de Jesus era formada por padres milenaristas, crentes de que seria sua obrigação criar um Império Cristão, uma teocracia em terras americanas.

Ora, mas justo em terras americanas? Claro. Uma nova tentativa de Jardim do Éden só seria possível povoando certo espaço com seres puros sem os vícios da civilização. Portanto, América, em que o estado selvagem era considerado estado de pureza.

Oculto ou não, o projeto de construir as reduções indígenas (norte e oeste do Rio Grande do Sul) tinha como um de seus desideratos criar uma região em que não entrasse a malícia dos europeus. Os padres jesuítas eram espanhóis e o Rio Grande do Sul pertencia à Espanha.


No ano de 1750, se não me falha a memória, foi assinado o Tratado de Madri e o território onde assentavam as reduções indígenas passa ao poder dos portugueses. Lutas cruentas, envolvimento com bandeirantes, o exército português, foram dos muitos dos fatores que puseram em declínio a vida nas reduções até seu total extermínio. O sonho de uma teocracia cristã acabava sobretudo com a expulsão dos jesuítas, sob o governo pombalino, primeiro em Portugal e em seguida na Espanha. Com o banimento da ordem de todo território da Península Ibérica, não foi mais possível coordenar nova tentativa de refazer o antigo projeto.

Em São Miguel das Missões existem marcas do que ali, no século XVII, foi construído. Tenho visto muitas vezes fotografias dessas marcas. Agora, que vou ter algum tempo de folga, quero ver aquilo ao vivo. Vou dar uma de turista, com máquina fotográfica a tiracolo e óculos escuros. Se não fizer muito frio, é bem provável que vá de sandália e bermuda.

Desço mais, vou a Gravataí em visita familiar. Vou ouvir as histórias que minha irmã aí me contar, as notícias de parentes, de quem ela sabe tudo. Então, estrada novamente na direção de casa.

Ah, sim, mas na volta, vamos passar pela Serra Gaúcha, onde precisamos nos abastecer de vinho. Aproveitamos para conhecer Bento Gonçalves e algumas vinícolas, que ninguém é de ferro.


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