segunda-feira, 9 de julho de 2018

CARTAS DO INTERIOR

Depois de seiscentos quilômetros


Eu tinha pensado em dar notícias hoje sobre as Missões, mas me lembrei de que a pouco mais de seiscentos quilômetros de casa era preciso descansar, encontrar algum lugar onde passar a noite. E foi o que aconteceu em Campo Mourão, no Paraná.

Depois de encontrarmos um hotel, muito bom, por sinal, o primeiro fato que nos surpreendeu: descarregamos malas e sacolas na calçada e fui guardar o carro no estacionamento. Enquanto isso, auxiliada por um funcionário do hotel, a Roseli recolheu nossos pertences para o quarto.

Acontece que na volta do estacionamento me deu vontade de um banho, fazer a barba, essas coisas que mesmo em viagem a gente costuma fazer. Então, a descoberta. A frasqueira com nossos materiais de higiene não estava no quarto. Jurei que no carro não tinha ficado nada. Minha mulher saiu ao
corredor, acionou o botão do elevador, que estava muito longe. Jogou-se meio em pânico pela escada até o térreo na esperança de que estivesse no lugar onde descarregáramos o carro. E estava. No meio da calçada, com transeuntes passados para cima e para baixo. Nossa frasqueira intocada, indevassada, a nossa espera.

Mais tarde, saímos do hotel para jantar em um restaurante indicado pelo funcionário da recepção. Outra descoberta. Em uma esquina, paramos esperando a passagem dos carros. Eles, os carros,
pararam esperando que atravessássemos a rua. O carro da frente buzinou e seu motorista fez
sinal para que andássemos. E foi o que fizemos encantados. Mais tarde, viríamos a descobrir alguma coisa desta Campo Mourão.

Uma cidade de noventa mil habitantes, toda ela ajardinada. E o sistema de seu trânsito funciona como relógio suíço. A cidade é cortada por avenidas. Quem está na avenida não precisa se preocupar com transversais. Nem olha para os lados. Os motoristas das transversais aproveitam o alívio do trânsito na avenida e seguem seu caminho. Não existe farol. Farol? Sinal, em alguns lugares. Em outros, sinaleira. Não importa o nome, o que importa é que o sistema funciona. Segundo nos informaram, o
que menos se vê na cidade é acidente de trânsito.

Conheço muita cidade pequena com dezenas e até centenas de sinaleiras. Sim, porque muita cidade pequena em tudo imita o que existe em cidade considerada grande. Nestas, existe calçadão? O prefeito decreta que tal ou qual via seja apenas para pedestres. Já parei em cruzamento de cidade pequena esperando o vermelho tornar-se verde. Dois minutos esperando. Enquanto isso, num trote sonolento, um cavalo usava sua prerrogativa de usar a sinaleira favorável para levar seu dono a algum lugar.

Já imaginaram o perigo que seria não haver ali, naquela esquina, um aparelho regendo o trânsito?

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