Esta coluna reúne crônicas inéditas de Menalton Braff
E por falar em política
E é claro que estou me referindo à política partidária e estamos em véspera de eleição. A maioria das pessoas de poucas letras confunde política com partido político. Já disse, e acho que foi aqui, repetindo o Carlos Nelson Coutinho (não sei se escreveu sobre isso, mas o ouvi de viva voz afirmar em um congresso da UBE no Teatro Sérgio Cardoso), que o beijo é um ato político, uma vez que envolve a concordância ou discordância de pelo menos duas pessoas.
Pois bem, não estamos em ano político já que todos os anos são políticos. Estamos em ano eleitoral. E isso me causa certa gastura porque começam a passar, aqui no interior, aqueles caminhõezinhos com seus alto-falantes anunciando, todos eles, seus candidatos, que, pelo discurso, não se diferenciam uns dos outros. Quem não fala de educação, saúde, segurança, combate à corrupção, desenvolvimento? O que eles não dizem, por não saberem ou por querer camuflar suas ideias, não sei, é o significado que atribuem a esta palavra tão aberta que é “desenvolvimento”. Dia e noite eles nos atenazam (atenazam, sim, ouviu? E não atanazam, a palavra deriva de tenaz) com o mesmo discurso como se entre os partidos não houvesse diferença de programas e apenas de pessoas. Dia e noite porque aqui no interior ninguém fiscaliza, então não se cumpre a legislação. Até no dia das eleições eles passam pelas ruas.
Na verdade, a diferença só existe entre os extremos. No meião, é tudo um bolo amorfo que serve apenas para que algumas pessoas façam carreira político-partidária. Nos extremos o que temos é, à direita, a defesa do capital, então incentivos de todos os tipos, alívio de impostos, perdão de dívidas, estradas, facilidades para exportação, leis mais rígidas contra quem trabalha para proteção de quem é dono do capital. No extremo oposto, à esquerda do espectro político-partidário, mais verba para educação, saúde, segurança, abertura de mais escolas, fundação de hospitais, preocupação com as
questões sociais.
Sim, as diferenças existem, mas não é isso que me causa mal-estar. São esses caminhõezinhos propalando bandeiras sem o menor compromisso em honrá-las, todos sabemos disso. Mas eles vêm, insistem, trovejam seus discursos bem aqui, na porta da minha casa, na porta de todos os cidadãos da cidade.
Quantas e quantas vezes, à tarde ou à noite, acordo assustado pensando que chegou a hora do “juízo final” e pulo da cama convencido de que não sou um dos escolhidos para passar a eternidade no Paraíso, e, quando vou ver, a casa estremeceu apenas com o alto-falante daquele maldito caminhãozinho.
Ainda bem que neste ano encurtou-se o prazo da nossa tortura.
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