segunda-feira, 10 de setembro de 2018

CARTAS DO INTERIOR

Esta coluna reúne crônicas inéditas de Menalton Braff.

Ora a cultura


Nós, que vivemos aqui no interior, também somos Brasil. Temos os mesmos orgulhos das populações ditas metropolitanas; as mesmas vergonhas que nos devastam tanto quanto aos caranguejos e a outros animais que lotam as diversas capitais estaduais.

Nós também somos Brasil.

Em política, as decisões tomadas a portas fechadas nos gabinetes são ou parecem ser de exclusividade dos grandes centros. Mas quanto elas devem à voz sutil, muitas vezes, ou sonorosa, outras tantas, que vem do imenso interior, isso é difícil de avaliar, mas que acontece, acontece.

Esse preâmbulo me ocorre por ocasião do LUTO do povo brasileiro, pela incúria de governantes e seu entorno, ou seja, aqueles que devem não só governar, mas também administrar as coisas (res) públicas, que são de todos nós.

O Museu Nacional era nosso, do povo brasileiro. Foi D. João VI seu fundador e, ao retornar à sua terra, não o levou consigo nem deixou essa herança para ninguém em especial, isto é, o museu ficou para o povo brasileiro. Como não dispomos de uma ágora, como tinham os gregos, somos obrigados a delegar.

Apesar de seres humanos, portanto políticos, em geral chamamos de políticos apenas àqueles que se apresentam para disputar cargos executivos ou legislativos. Os políticos. Pois bem, é público e notório (me perdoem a frase feita porque apesar de feita se encaixa perfeitamente na situação) que os políticos, mesmo aqueles que chamamos de incorruptíveis, em geral têm uma formação cultural deficiente, pensando que cultura é pura perfumaria, algo para distrair o povo. Na maioria dos
casos, político não sabe a diferença entre arte e entretenimento.


Para dizer o que penso, preciso escandalizar “uns que outros”. Educação é algo importante, claro, mas a educação prepara seres humanos para serem produtores e consumidores. A educação prepara pessoas para se adequarem aos valores que a sociedade lhes dita. Mais importante que a educação é a cultura, pois é com ela que um ser humano vai descobrir em que dimensão do universo ele vive, qual o seu lugar na sociedade, que sentido tudo isso pode ter.

E no Rio de Janeiro, em que pesem todas as reclamações por verbas, o Museu Nacional não conseguiu os recursos mínimos para se conservar existindo. Duzentos anos jogados fora. Um museu de História, de Ciência e de Cultura, um museu que não dava lucro algum. Virou cinza. História e Ciência não são lucrativas; e Cultura, ora a Cultura, é pura perfumaria. Vive-se muito bem sem História e o mesmo se dá com a Ciência. Quanto à Cultura, só dá despesa. E já há ameaças de
extinção do Ministério da Cultura, sob a acusação de ser um ninho de esquerdopatas. O que precisamos, hoje e sempre, é de um povo que saiba produzir e tenha capacidade de consumir. E só. Em outras palavras, nós precisamos de um povo que não pense.

Vamos continuar de LUTO.

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