quarta-feira, 24 de outubro de 2018

CANTIGAS DE AMIGOS

(Esta coletânea de poemas de Gazi Abon Ali faz parte da Antologia Solidária Barretos. Publicamos, a seguir, a introdução e o primeiro poema. Nas duas próximas quartas publicaremos cada um dos poemas restantes)


Sonhos, fantasias e realidade              

(Gazi Abon Ali)

O amor, na visão deste poeta, é a semente plantada com carinho, cultivada longamente, que se fortalece com o decurso do tempo; ou, é a consequência de uma paixão forte, vigorosa, que uma vez arrefecido o ímpeto inicial, entra em fase
de calmaria, perde a característica de paixão e cede lugar ao amor verdadeiro, profundo e duradouro.

Justifica-se, portanto, a pouca proliferação do verdadeiro amor, atualmente, a partir de duas constatações:

- as paixões voluptuosas raramente se transformam em amor verdadeiro, têm duração efêmera; nas paixões, as pessoas não se conhecem a fundo, e via de regra, há a decepção quando se desnudam um ao outro;

- as maiores perspectivas para nascimento do amor estão no primeiro caso, mas as pessoas, nos dias de hoje, ou não têm tempo ou não têm paciência para cultivar o amor, cultuar a pessoa amada. A sociedade de consumo, os meios de comunicação massificaram os costumes; as mentes e os “corações” pregando imediatismo e comodidade exagerados, horizontalizando as atitudes, erradicando toda a criatividade contida no cultivo do amor. O tempo, principalmente nas grandes cidades, é consumido por uma infinidade de afazeres, que cansam as pessoas e as dissuadem de prosseguirem em algum projeto amoroso.

Esta coletânea é fruto de amores prolongados e cultuados, e paixões abruptas, voluptuosas; de entremeio, a realidade da vida e os dissabores do cotidiano, que acrescidos aos dissabores sentimentais, provocam a imaginação, na busca de soluções ou novos sonhos que arrefeçam os males da vida, a amargura das paixões desenfreadas, desfeitas tão repentinamente quanto surgiram, e a
ansiedade pelo amor não germinado ou não frutificado...

Sonho, fantasia e realidade


Um dia, dediquei a você o mais longo dos sonhos que já fiz,
utilizei-me de toda a imaginação que me fosse possível,
para recriar, visualizar e ver florescer nossa vida...

Estive absorto um tempo imensurável, inconcebível,
construindo na mente uma paisagem multicolorida,
onde pudéssemos viver, onde eu a fizesse feliz...
Viajei através de uma nave espacial imaginária,
aos confins do universo, a cada planeta existente,
procurando cada detalhe da beleza infinita...
Reuni neste sonho a cor mais bela, a flor mais bonita,
a luz mais brilhante da maior luminária,
para ofertar aos seus pés o mais raro presente...
A viagem foi tão longa, permaneci tão ausente,
que não mais a encontrei quando me fiz de volta...
Procurei-a feito um louco por todos os caminhos conhecidos,
briguei comigo mesmo, sufoquei-me, enchi-me de revolta,
senti calafrios, transpirei angustiado, perdi os sentidos...
...até me acalmar... Mas que faço com o presente?
Paixão metafísica
Não, não procuro você apenas como um prato de sexo,
que se apresenta a um pobre faminto...
Espero você como se fora algo transcendental,
vinda de um outro mundo, um mundo azul, irreal,
para abrilhantar o meu mais recôndito recinto,
e organizar este amontoado todo desconexo...
...conjunções infantis, sonhos utópicos, coração pujante...
...entreaberto, para que você ocupe todo o espaço,
e sorria feliz... e me faça feliz também...
A mente doentia pela esperança incessante
de encontrá-la antes que me vença o cansaço,
por vasculhar tudo... e não encontrar ninguém...
Não, não espero você apenas como uma forma física,
sem conteúdo, abstraída nos sonhos materiais...
... espero você como uma forma distinta, até metafísica,
alguém que se impregne em mim por inteiro,
e dê calor, vida, às minhas fantasias irreais...
... e me aceite como um eterno companheiro...
Quem me quer?
Eu procuro alguém que me aceite como eu sou, assim,
exatamente assim, com todas as falhas e defeitos,
como qualquer ser humano tem que ser...
Eu preciso de alguém que saiba, enfim,
conviver com os meus absurdos, meus conceitos,
que saiba tolerar a minha maneira de viver...
Eu preciso de alguém que não busque perfeição
(na terra, tudo é pó, tudo faz parte da mistura...)
que não me queira para ser um ser supremo,
que não me deixe quando vier alguma depressão,
que não me abandone se passarmos por uma rua escura,
que não me peça para ser alguém de algum extremo...
Alguém que me ensine um caminho novo, diferente,
onde eu também tenha espaço, humildade para aceitar
todos os erros que um outro ser humano comete,
tanto quanto eu, que não me canso de errar...
Alguém que não me queira mudar tanto, mas me complete...
Eu preciso de alguém que me queira apenas por ser gente...


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