segunda-feira, 12 de novembro de 2018

CARTAS DO INTERIOR

O cordão dos puxa-sacos


Não posso dizer que seja uma peculiaridade brasileira, pois não sei como acontece lá fora, mas a verdade é que aqui, em nosso país, esse é um fenômeno extremamente comum. E no carnaval castigat ridendo mores não juro com os dedos em cruz quando e onde fez imenso sucesso a marchinha, mas me lembro de pessoas cantando-a, e se não é tudo lembrança minha, assim, de ter testemunhado os fatos, ao vivo (redundância), muita coisa ouvi dos mais velhos, que já exerciam a cidadania na época do Getúlio Vargas.

O puxa-saco geralmente fica na moita, espera, tem medo de tomar partido. Porque isso só vai ser feito com a certeza de ter entrado ao lado do vencedor.

Pois bem, já começam a aparecer as primeiras personagens descritas no parágrafo acima. Dobrando de ruas meio desertas, mergulhadas em sombras, e entrando na largura da avenida, lá vêm eles, mostrando o rosto com a máscara de alegria, fantasiados com as cores da moda, lambendo as partes íntimas do vencedor.

E o cordão dos puxa-sacos cada vez aumenta mais. Getúlio que o diga.

Outra característica do puxa-saco é a memória de elefante. Ele sabe quem estava onde, tem o mapa de todo mundo. Por isso e com isso o puxa-saco além de se declarar fiel, eternamente fiel, vencedor, tem também um tratamento carinhoso para seu séquito.


Quanto aos outros, aqueles que foram derrotados, ele, o puxa-saco, se blinda, rompe amizades, esquiva-se de encontros, isto é, mantém distância, a maior que possa conseguir.

“Mas se o doutor cai do galho e vai ao chão”, o puxa-saco muda logo de opinião, pois surgem outros sacos oferecendo-se para serem puxados.

Eu não diria que o puxa-saco é um ser sem opinião. Ele tem e fortemente entranhada em seu caráter. Ou achar que deve sempre estar ao lado de quem vence não é opinião? É opinião de calhorda, claro, mas não deixa de dirigir a vida de alguém.

Mudar de lado por convicção, por convencimento extraído da realidade, isso já é outro assunto. Só as pedras podem dizer que nunca mudam de opinião. Aliás, devemos ter medo daquelas pessoas que dizem jamais se arrepender, de jamais voltar atrás, de nunca pedir desculpas por reconhecer-se culpadas.

É outro assunto. Mudar de lado por puro interesse menor, por conveniência momentânea, isso sim, é corrupção de caráter.

Vocês já devem ter visto o início desse fenômeno, não? Se não viram, comecem a prestar atenção. É um exercício prazeroso e revelador, ele mostra muito do caráter do ser humano.

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