quinta-feira, 11 de abril de 2019

ORELHA

E
Esta coluna reúne textos de Menalton Braff sobre livros de outros autores. O que postamos hoje foi pulicado como orelha da coletânea de contos "Amortalha", de Matheus Arcaro.

Chegou para ficar    


Matheus Arcaro deixou de ser um ensaio, uma preparação para o grande salto. Ele já comprovou que chegou para ficar e que seu modus vivendi é o salto. Depois do Violeta velha e outras flores, com que se inaugurou na arte de narrar, deu à luz o romance O lado imóvel do tempo, comprovando que não tem fôlego somente para as narrativas curtas. Amortalha é seu terceiro livro, com que confirma sua competência nos manejos da língua.

O que melhor caracteriza os vinte e um contos de Amortalha são as figuras de retórica, fartas e quase sempre inusitadas. “Bete arrasta as sandálias como se precisasse desgrudar uma verdade da calçada.” Eis o período inicial do conto A salvação de Bernardo, em que a ideia contida na expressão “arrasta as sandálias” é potencializada com a comparação “como se precisasse desgrudar uma verdade da calçada”. E casos como esse não são raros, de forma alguma. Eles a todo momento vão surpreender o
leitor, sobretudo o leitor que sente prazer com a leitura de uma linguagem desautomatizada.

Em alguns dos contos, como Alemão, Metade de mim e A graça de Benedito, o autor se aproxima de uma autoficcionalização ao usar como a matéria de seus textos elementos do entorno, materiais que lhe são familiares pela proximidade.

Outra recorrência de seus contos é o emprego de nomes da filosofia e alguns de seus conceitos, área em que pisa com conhecimento da matéria uma vez que aí reside sua formação acadêmica.

Além de ter nascido adulto, como ficou dito no Violeta velha, Matheus Arcaro veio para ficar.

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