quinta-feira, 23 de maio de 2019

VANESSA MARANHA ESCREVE SOBRE AMOR PASSAGEIRO


Menalton Braff, um mestre

Por: Vanessa Maranha

Um dos teóricos que mais norteou a minha leitura e produção literária foi Ezra Pound, para quem “grande literatura é simplesmente linguagem carregada de significado até o máximo grau possível”.

A seguir esse axioma, a obra de Menalton Braff justifica toda a premiação que já recebeu. A leitura de Braff em si, uma grande experiência estética formalista, mas que não se destitui do necessário equilíbrio entre forma e conteúdo.

Eu o leio desde que “À Sombra do Cipreste” (Editora Palavra Mágica) recebeu o Prêmio Jabuti como Livro do Ano (o que não é pouca coisa) em 2000.

Em Menalton Braff é clara a recusa aos modismos literários, a negativa ao hiper realismo, sua habilidade em trabalhar a palavra na maleabilidade da língua. Braff não despreza, contudo, a tradição clássica da literatura em razão de uma escrita puramente vanguardista. Tampouco se coloca num estilo refratário ao novo. Ao contrário, bebe de suas fontes e sintetiza seu próprio tom, refletindo aquilo que Roland Barthes chamou de “categorias eternas do espírito”. “Em qualquer forma literária, há a escolha de um tom, de um etos, e é aí que o escritor se individualiza claramente, porque é aí que ele se engaja”, afirma Barthes.

Subvertendo a sintaxe, ao longo de toda a sua obra, Braff concebe construções espantosamente sofisticadas. ‘Amor Passageiro’ (Editora Reformatório), novo livro de contos de Menalton Braff, traz histórias alinhavadas por um traço comum: falam basicamente de momentos, mas não de uma instantaneidade bergsoniana e líquida.

Os momentos são eternizados na mão do artista, trabalhando com perfeição o sentido do arco dramático, sem necessariamente se colocarem em linearidade. E para dissecar esses momentos, o autor busca significações por meio de uma linguagem precisa, exuberante, de tintas proustianas, lampejos de inventividade numa prosa por vezes vagamente elegíaca, gênero que se põe dialogicamente entre o épico narrativo e o lírico, trazendo aquilo que Hegel denomina objetividade épica no fluxo narrativo e subjetivamente lírica, o que é, em síntese, prosa poética.

“Amor Passageiro” é uma viagem cheia de sensorialidade e que fala também de resistência e impermanência, refletindo um jeito cada vez mais raro de ser e de estar no mundo. Mas, aqui eu acrescento a negativa a uma visão apocalíptica que preconiza o fim da literatura a reboque do fim das utopias para postular que não ‘seremos os últimos da nossa espécie, como disse Marcelo Yuka, músico do Rappa que faleceu este ano.

Uma literatura impressionista, na melhor acepção da definição. Um livro que eu li viajando, literalmente.

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