BENEDITA
(Jane Alves)
A senhora não acredita, quem que apareceu no Fantástico ontem: D. Beja! Bonita igual
quando ela vinha todo dia, nem parece que ficou mais véia, se duvidar tá até mais
bonita! E sabe o que a sem-vergonha da Ana Raio fez hoje? Chegou lá com um menino
já véio pela mão dizendo que era filho de Zé Trovão. Filho dele meu ôio! Cansei de ver
ela deitando com o outro lá no Pantanal. E todo mundo via, como é que o bobo do Zé
Trovão acredita? Queria é ir lá contar pra ele, eu sei que o que ela quer é tirar dinheiro
do pobre. A senhora é que não fica aqui pra ver, aí não acredita: aparece sombração
pr’aquela dona, sim; até me arrupeia, nem gosto de falar; vem um vento que alevanta
a cortina, sombração tá lá atrás, cheia de nuvem, eu já vi muitas vez, cruz credo! Até
fecho os óio quando toca a cantiga que vem com ela, pra não ter de ver. Não sei o que
foi que esse doce ficou da minha cor, essas bananas de hoje engana a gente, fica do
jeito que elas quer. Essa geladeira que a senhora arrumou agora, a gente deixa a porta
aberta um tiquinho ela apronta uma apitação! Nojenta! Esses leite de hoje tão dando
pra isso: a gente vira as costas eles‘sparrama, não espera nada; eu botava era dois
latões de leite de uma vez pra ferver na lenha, fazer doce pra minha véia; ficava
catando feijão, amassando biscoito pra aproveitar o forno quente, batia ovo e tudo, o
leite não fazia essas graça, era só uma mexidinha pra não queimar no fundo do tacho
até a hora de botar o açúcar, aí sim tinha de botar sentido e mexer pra não garrar. O
senhor pare de candongar com a menina, ela achou foi essa. Se quer suas picanha mais
bonita, por que não para de ler esse jornal que já devia de tá cansado de ler todo santo
dia e não vai pro mercado o senhor mesmo?
Por quê qu’ esses amigos branquelo d’ocês fala assim difícil desse jeito? Por quê que
eles não fala igual nós, dum jeito que todo mundo entende?
O churrasco qu’ocês me levou tava bom demais, mas esses danado queria se soltar o
tempo todo. Tormentei, tormentei eles o dia inteirinho: - “cês pensa que manda em
mim? Agora eu deixo ocês sair, seus nojento, porque agora EU quero”.
E Bené libertou os dedões rebeldes, aprisionados no sapato “de ver Deus”.
E quando Irene a pegou pela mão: “ Vai entrando, minha irmã, a gente aqui não carece
de pedir licença”, será que Bené estava descalça, ou com as inseparáveis sandálias de
dedo?
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