quinta-feira, 21 de novembro de 2019

CRÍTICA LITERÁRIA

Esta coluna reúne críticas literárias.


A ÉTICA DO REI DO CONGO

(Wagner Coriolano de Abreu)

A arte e magia do desfile do Rio de Janeiro, apreciado internacionalmente, relembra a história e ética de um povo admirável. Quando se fala em Carnaval no Brasil entende-se que é a manifestação de pelo menos três modalidades de evento: desfile de escolas, baile de clubes e bloco ou trio nas ruas.

O Carnaval das escolas cariocas corresponde ao maior espetáculo coreográfico do mundo, como bem registrou a Enciclopédia Ilustrada Folha. Realmente, a festa das escolas traz para o público uma senhora representação teatral.

Em homenagem ao Estado de Minas Gerais, a escola Estação Primeira de Mangueira encenou, em 2004, a redescoberta da Estrada Real, cujo caminho representa a história de Minas e do Brasil, à época da colonização e domínio de Portugal. Como não poderia faltar, uma ala apresentou o episódio da escravidão negra e da emblemática figura do rei do Congo, herói da resistência e libertação dos escravos.

A cota dos africanos na consolidação da cultura mineira, segundo o embaixador Alberto da Costa e Silva, estudioso da história da África, foi vital em determinados aspectos da nossa cultura. Em entrevista recente, lembrou que sem os minas não teríamos uma mineração como a que tivemos no Brasil. A maioria dos portugueses que veio não conhecia esse processo, ao passo que a África era a maior produtora de ouro do mundo, desde o século XI, e seu conhecimento técnico nesta área era
reconhecido. A região do Congo comerciava por longas distâncias, explorando ferro e minas de sal. Desse reino, os portugueses trouxeram muitos negros como escravos e, entre eles, o rei.

Aqui no Brasil o rei do Congo passou a ser chamado rei Chico. O músico e compositor Milton Nascimento atuou como rei Chico no destaque de um carro alegórico da Mangueira. Enquanto a ala passava, o jornalista da tevê que narrava o desfile contou um pouco da história deste curioso personagem. O rei escondia pó de ouro no cabelo, retirava posteriormente com água e juntava aos poucos até formar o peso do resgate de sua liberdade. Assim, comprou a própria liberdade e de outros escravos.

O tesouro do rei Chico formou-se com o ouro brasileiro que não era do Brasil, pelo menos naquele estágio, mas da coroa portuguesa. A considerar esta baliza histórica, a ética do rei Chico transtorna o
sentido de propriedade em favor da liberdade humana.

Ainda que tardia, a liberdade aconteceu na história dos escravos devido a uma ação que colocou o direito de pessoa acima de qualquer outro fundamento. Nesse sentido, o episódio de rei Chico leva-nos à história esquecida das tradições, costumes, canções e técnicas de produção do povo africano, conforme o aludido embaixador.

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