quinta-feira, 28 de novembro de 2019

CRÍTICA LITERÁRIA

Esta coluna, recém-iniciada, reúne críticas literárias. As primeiras postagens conterão textos de Wagner Coriolano de Abreu, publicados originalmente no livro SEMPRE AOS PARES, lançado pela Carta Editora.


A EXPRESSÃO AFÁVEL


(Wagner Coriolano)

Os setenta e um anos que separam o leitor dos primeiros milhares de leitores de Um rio imita o Reno, de Clodomir Vianna Moog  (1906-1988), não corroeram a fertilidade do romance e do debate temático que o autor inseriu na narrativa. Publicado em 1939, este livro representa a estreia do autor na ficção literária, depois de consagrado como ensaísta.


A primeira edição do romance, de cinco mil exemplares, esgota em três semanas, segundo informa o Instituto Estadual do Livro.


Este fato nos leva a perguntar sobre a comunidade leitora da época, bem como acerca da recepção da obra e seu impacto naqueles leitores de então.


A história do encontro amoroso entre o engenheiro, que chega às margens do rio, e a descendente de imigrantes alemães, que vive na cidade com sua família, constitui o cenário de um acervo cultural, em condições de revelar novos traços decorrentes da imigração. Nesse sentido, Vianna Moog soube lidar muito bem com a expressão de sentimentos fortes, decorrentes dos contatos entre imigrantes e brasileiros, e a argumentação de teses relevantes naquele momento histórico. A leitura da narrativa não se esgota na polêmica do isolacionismo dos grupos germânicos ou da crítica ao conflito racional, visto que pode reabastecer o debate contemporâneo da imigração com outras

linhas de pesquisa.


Salta aos olhos de quem conhece a região do Vale do Rio dos Sinos a alusão entre realidade e invenção, presente no desenho da cidade e da torre da Igreja do Relógio, na exposição do conflito dos Muckers, na reprodução textual de estrofes de
canções tradicionais, na construção da Hidráulica e na personagem do doutor Stahl, médico de visão humanista, cuja afabilidade no trato com os outros revela muito do estilo do leopoldense Vianna Moog. O narrador diz que o
doutor Stahl gostava dos que o contrariavam, porque o obrigavam a pensar, reformar e revigorar suas ideias. É interessante como esta perspectiva tem a ver com o ambiente no qual a personagem se insere.

Certamente, a síntese do enredo muito esclarece os aspectos que foram destacados, bem como a fluidez da leitura e a expressão afável contribuem para a grandeza da obra. No entanto, o romance guarda muito mais do que uma boa história, pois nele se encontra um depósito literário repleto de clássicos da literatura, de discos de grandes compositores, do pensamento ocidental e da discussão filosófica.


Geraldo lê uns versos em alemão e procura penetrar no mistério daquelas palavras. A professora que está por perto percebe seu esforço e traduz para o português. Sorg, aber sorge nicht/ zu viel, es geht doch/ wies Gott haben will. Tenha cuidado, inquiete-se, mas não muito. Tudo há de acontecer como Deus quiser.

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