quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

CRÍTICA LITERÁRIA

Esta coluna, iniciada em outubro do ano passado, reúne críticas literárias. As primeiras postagens contêm textos de Wagner Coriolano de Abreu, publicados originalmente no livro SEMPRE AOS PARES, lançado pela Carta Editora.

JOÃO ANTÔNIO RELATIVAMENTE POPULAR

(Wagner Coriolano de Abreu)



A narrativa de João Antônio, cuja publicação cobre o período de 1963 a 1996, apresenta-se marcada em geral pelo rótulo de “literatura dos marginais”, embora a produção englobe textos literários e jornalísticos que tratam de outras temáticas, como conflitos amorosos e perfil de gente renomada na cultura brasileira. A crítica realmente não enfatiza o caráter elegante de sua escrita.

Em Malagueta, Perus e Bacanaço, livro de estréia, o autor reúne não apenas narrativas sobre o mundo do jogo da sinuca, mas também narrativas cujo conteúdo expressa a infância do narrador, a solidão de rapaz e sua vivência amorosa. Já no segundo livro, Leão-de-chácara, restringe-se apenas aos personagens que na sua estréia motivaram a fama de “clássico velhaco”, expressão que Marques Rebelo utilizou quando de sua crítica aos contos. A partir de Casa de loucos, sua prosa se abre a várias possibilidades de leitura, inclusive a que mostra o escritor de fino trato e bom ouvinte da música brasileira e clássica.

A passagem de escritor de marginais para bacanaço indica uma mutação de sentido, a fim de dar voz ao próprio escritor quando diz “às vezes eu fico meio chateado com esse clichê de escritor dos mar-
ginais” (Jornal Muito +, janeiro de 2000).

A emergência da sociedade de rua, com mais evidência a partir dos anos 60, fez surgir uma literatura com interesse pela representação do morador de rua, da viração (termo empregado coloquialmente para designar o ato de conquistar recursos para a sobrevivência, conforme a antropóloga Maria Filomena Gregori), do urbano como espaço de conflito, da disseminação do medo e ainda do debate em torno dos excluídos da cidadania.

A plataforma literária de João Antônio, nesse sentido, calcou-se desde o início pelo universo da patuléia ou das gentes de rua, de modo que a crítica acompanha a trajetória de sua produção, dando
ênfase ao caráter popular presente na maioria de seus textos. Assim, outros escritos como Fujie, Meus tempos de menino e Antes que o poeta fizesse oitenta anos ficaram à margem do horizonte de leitura, fora do raio de alcance da crítica. Esta outra face da obra aponta para um patamar mais amplo e abrangente no qual seu fazer poético encontra guarida.

Quanto a excelência da escrita, o lingüista Sírio Possenti destaca a presença de estruturas cultas na escrita de João Antônio. Após empreender uma análise da oralidade e das construções sintáticas 
presentes na prosa do escritor, o professor da Universidade de Campinas verifica que, pelo uso de construções cultas, a escrita de João Antônio é relativamente popular.

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