JOÃO ANTÔNIO RELATIVAMENTE POPULAR
(Wagner Coriolano de Abreu)
A narrativa de João Antônio, cuja publicação cobre o período de 1963 a 1996, apresenta-se marcada em geral pelo rótulo de “literatura dos marginais”, embora a produção englobe textos literários e jornalísticos que tratam de outras temáticas, como conflitos amorosos e perfil de gente renomada na cultura brasileira. A crítica realmente não enfatiza o caráter elegante de sua escrita.
Em Malagueta, Perus e Bacanaço, livro de estréia, o autor reúne não apenas narrativas sobre o mundo do jogo da sinuca, mas também narrativas cujo conteúdo expressa a infância do narrador, a solidão de rapaz e sua vivência amorosa. Já no segundo livro, Leão-de-chácara, restringe-se apenas aos personagens que na sua estréia motivaram a fama de “clássico velhaco”, expressão que Marques Rebelo utilizou quando de sua crítica aos contos. A partir de Casa de loucos, sua prosa se abre a várias possibilidades de leitura, inclusive a que mostra o escritor de fino trato e bom ouvinte da música brasileira e clássica.
A passagem de escritor de marginais para bacanaço indica uma mutação de sentido, a fim de dar voz ao próprio escritor quando diz “às vezes eu fico meio chateado com esse clichê de escritor dos mar-
ginais” (Jornal Muito +, janeiro de 2000).
A emergência da sociedade de rua, com mais evidência a partir dos anos 60, fez surgir uma literatura com interesse pela representação do morador de rua, da viração (termo empregado coloquialmente para designar o ato de conquistar recursos para a sobrevivência, conforme a antropóloga Maria Filomena Gregori), do urbano como espaço de conflito, da disseminação do medo e ainda do debate em torno dos excluídos da cidadania.
A plataforma literária de João Antônio, nesse sentido, calcou-se desde o início pelo universo da patuléia ou das gentes de rua, de modo que a crítica acompanha a trajetória de sua produção, dando
ênfase ao caráter popular presente na maioria de seus textos. Assim, outros escritos como Fujie, Meus tempos de menino e Antes que o poeta fizesse oitenta anos ficaram à margem do horizonte de leitura, fora do raio de alcance da crítica. Esta outra face da obra aponta para um patamar mais amplo e abrangente no qual seu fazer poético encontra guarida.
Quanto a excelência da escrita, o lingüista Sírio Possenti destaca a presença de estruturas cultas na escrita de João Antônio. Após empreender uma análise da oralidade e das construções sintáticas
presentes na prosa do escritor, o professor da Universidade de Campinas verifica que, pelo uso de construções cultas, a escrita de João Antônio é relativamente popular.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças