terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

CRÍTICA LITERÁRIA

Excepcionalmente, a coluna CRÍTICA LITERÁRIA será postada esta semana na terça-feira.


LECIONANDO SONHOS
(Wagner Coriolano)

Quis Sérgio Farina se apresentar perante os leitores da coluna Literariedades, nos idos de maio de 2004, jornal Vale dos Sinos, com o seu ofício de professor, que ele trocava em miúdos pela expressão lecionando sonhos. Naquele momento, o professor retornava ao campo da literatura lendo crônicas, completando roteiros de análise, discutindo aspectos pelo viés da crítica e orientando caminhos de ensino.

Foram muitas semanas que se seguiram iluminadas por aquela crônica de domingo.Tomando um ou outro título da série, encontramos o registro do tema de casa realizado com esmero, mostrando a cultura literária do mestre, que, a bem da verdade, foi doutor em Letras. As crônicas são textos que mostram a dimensão literária e crítica do leitor Farina.

Com a crônica A deusa Grécia fez harmoniosa síntese da contribuição dos gregos, apontando-os como a fonte do pensamento contemporâneo. Com o texto Entre hoje e amanhã, mostra que não apenas conhecia os pensadores, citando, por exemplo, Alvin Toffler e Heráclito, como também inaugurava reflexões: o tempo está sempre colado a nós como pele luminosa ou sombra assustadora e não sabemos o que pode acontecer entre hoje e amanhã. Com as duas crônicas intituladas Quando começa o ensino de literatura relembra o papel dos pais na formação literária dos filhos, antes mesmo do tempo escolar, quando contam histórias como uma forma de se fazer família, convivendo
momentos mais íntimos. Farina nos brinda com outra reflexão bem a seu estilo: a literatura são desperdícios da imaginação.

Pouco identificado como especialista, o nosso cronista encareceu tanto a leitura cultural quanto a leitura literária. No campo específico das Letras, tomou do lingüista Roman Jakobson a palavra
literariedade, calcada do termo russo literaturnost, para indicar o conjunto de características específicas que permitem considerar um texto como literário. Na baliza do pensador Jakobson, o cronista encontrou um meio de dizer a importância da teoria, como farol para iluminar nossa peregrinação pelos caminhos da literatura e do cotidiano.

Revendo outros textos de Sérgio Farina, ora na revista Palavra Comovida, ora no prefácio aos poemas de Lauro Dick, no livro Poesia de quatro idades, é que percebemos o alto nível de pensamentos que levou ao leitor de jornal, semanalmente mesclando o momento vivido com a perspectiva de civilização, a nossa relação com o chão do inconsciente coletivo da humanidade, como aponta ao tratar da deusa Grécia. E olha que Farina escreveu estas literariedades na hora em que viajava pela canoinha da aposentadoria, como tão bem registrou, pensando em Guimarães Rosa.

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