segunda-feira, 16 de março de 2020

CARTAS DO INTERIOR

Esta coluna reúne crônicas de Menalton Barrf. No texto de hoje, ele fala sobre o lançamento de seu 26º romance, que está marcado para amanhã, às 19h, na Casa Tombada, em São Paulo.


Agitos de um lançamento



Pois é, meu vigésimo sexto título tem o lançamento em São Paulo com data marcada.

Costumo dizer que, no Brasil, escrever um livro é bem mais fácil do que publicar, e tenho para me confirmar a multidão de jovens com seus livros na gaveta ou circulando pelas editoras à espera daquela resposta padronizada “Seu livro não está dentro da nossa linha editorial.” E pronto, explicação nenhuma e sugestão nem se fala.

Depois de andar por aí me oferecendo, no início da carreira, sem resultado positivo nenhum, ocorre que um livro de contos, À sombra do cipreste, teve a audácia de concorrer ao Jabuti-2000, e digo audácia porque meu nome não existia no mercado editorial. Isso pode ser elemento fatal para um iniciante. É tiro na testa, quase sempre o abandono da escrita literária. Ocorre que meu livro de contos acima conquistou a estatueta e foi agraciado com o Jabuti – livro do ano.

Acredito ter sido graças ao prêmio acima que hoje chego ao meu vigésimo sexto
título.

O lançamento de Além do rio dos Sinos, um livro nascido no interior e que vai ser batizado em São Paulo, vai acontecer na Casa Tomada, no dia 17 de março. Convites expedidos a amigos-amigos e amigos de zapzap ou do Face. O livro está pronto, então precisa-se de um espaço onde fazer o lançamento. Bar, livraria, espaço cultural? Locais como esses são geralmente os preferidos tanto dos autores como dos editores. Vai haver copos de vinhos e canapés? Não vai haver nada além do autógrafo do autor? Hoje em dia costuma-se promover um evento cultural dentro do lançamento. Música, palestra do autor, leitura de fragmentos do livro.

Então, com tudo pronto, segure-se a ansiedade do autor. Principalmente quando se trata de seu primeiro livro.

Além do rio dos Sinos resultou de uma viagem que, com minha mulher, fizemos em busca das origens. O espaço geográfico mantido em minha memória desde a infância, pois lá estive muitas vezes até por volta dos dez anos, depois nunca mais. Parentes mal lembrados, paisagens distorcidas, uma redescoberta. Pode parecer que eu tenha produzido um romance de denúncia. Se é verdade, não sei. Com essa viagem quis em primeiro lugar buscar a mim mesmo. Quanto ao romance, quis fazer arte literária e arte literária, sem o exagero dos formalistas, tem em si sua própria significação. Porque arte nunca é para, não se rende a qualquer outro objetivo que não seja o plano estético.

Como não existe palavra vazia, pode muitas vezes até denunciar. No meu caso, quis mostrar aos outros de onde venho. Região difícil, inóspita, povo duro como as pedras que cobrem aqueles morros, mas um povo que ao entardecer canta lá no alto, naqueles morros, verdadeiras escadas para o céu. E quem canta, nunca deixa de ter resposta no alto de um outro morro. E assim é como se sentem pertencentes a uma espécie que se chama humanidade.

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