segunda-feira, 30 de março de 2020

CARTAS DO INTERIOR

Esta coluna reúne crônicas de Menalton Braff. A desta segunda é inédita.


Pandemônio


Para mim, que já tenho sete domingos por semana e, por isso, estou bem treinado em confino, a rotina diária não foi muito alterada. Mas sei muito bem que há seres para quem a casa é quase sinônimo de inferno e as ruas, é claro, são o próprio paraíso, para esses, que agora têm de suportar o isolamento social, lanço aqui três sugestões de leitura, o modo mais inteligente de suportar o dolce far niente forçado. 

Vou tentar a indicação em ordem cronológica das publicações.

Em 1947 o escritor argelino Albert Camus deu à luz seu romance A peste, em que trata dos problemas inter humanos em pequena cidade no norte da África. Como as pessoas em geral introjetam os dramas em uma sociedade em quarentena. É muito rica a fauna que ele nos apresenta, com análises psicológicas e, por vezes, filosóficas das pessoas obrigadas a viver em confino. Trata-se de um dos clássicos da literatura em língua francesa que, em 1957, foi outorgado com o Prêmio Nobel de Literatura. Pode-se dizer sem medo de errar que foi ele, Camus, um dos pais do romance do absurdo, ventos quentes da moderna novelística universal.

Ensaio sobre a cegueira, de 1995, do também agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura, José Saramago, é uma alegoria do que pode ser a sociedade humana em face de uma epidemia, que joga a população de uma cidade num confino em que todos são atacados pela peste da cegueira branca. A luta entre pavilhões, as barbaridades cometidas por aqueles que conseguem mostrar-se mais fortes, o modo da dominação de um dos pavilhões, que acolhe os mais violentos e organizados para subjugar os demais. O modo como se dá o enriquecimento de uns em detrimento de outros, mas que, no final, acena com alguma esperança quando a esposa de um médico que estivera sempre imune à epidemia, mas em segredo, bem, é melhor ler o livro para saber o papel desenvolvido pela mulher.

Finalmente, nesse mesmo ano de 1995, outro conquistador do Nobel de Literatura, J.M.G. Le Clézio, autor francês, lança um de seus romances, talvez um dos mais populares, A Quarentena.

Um navio na metade de seu percurso vê-se obrigado a fundear no pequeno porto de uma ilha. Seu destino sofre com uma peste, o mesmo acontecendo com as pessoas que vão sobreviver, quando muito, nas areias da ilha, em cuja metade mais afastada, as pessoas dizimam-se com uma doença para a qual ninguém tem os meios necessários para a cura. O tempo vai passando e os passageiros do navio veem-se forçados a inventar a vida durante a quarentena. Um romance indispensável na estante de uma
pessoa culta.

Por fim gire a cabeça em 360º graus para ver se não estamos vivendo hoje não só uma pandemia como também um verdadeiro pandemônio.

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