quinta-feira, 5 de março de 2020

CRÍTICA LITERÁRIA

Esta coluna reúne críticas literárias de Wagner Coriolano de Abreu, publicados originalmente no livro SEMPRE AOS PARES, lançado pela Carta Editora.


NA CADEIRA DE GREGÓRIO

(Wagner Coriolano de Abreu)



A cadeira de Gregório da Fonseca não é um ícone do design brasileiro, como a famosa cadeira do artista plástico Sérgio Rodrigues. A cadeira de Gregório tem assento na Academia Rio-Grandense de Letras, indicando um lugar oficialmente reconhecido de honra e de autoridade. Gregório Porto da Fonseca, natural de Cachoeira do Sul, destacou-se na vida local, como figura da história literária no Rio Grande do Sul, e na vida nacional, como ocupante da cadeira 27 da Academia Brasileira de Letras, quando participava ativamente da vida literária na cidade do Rio de Janeiro.

Em maio de 2009, o médico e romancista Waldomiro Carlos Manfroi proferiu o discurso de posse à cadeira 30 do patrono Gregório Fonseca, passando a ocupar a vaga deixada, em 2007, pelo médico cardiologista e poeta Caio Flávio Prates da Silveira. Em agosto de 2010, Walfomiro Manfroi esteve em São Leopoldo, participando do Momento Cultural/SESC, no Espaço Vila D’Assissi, onde expôs sua obra ficcional, feita de romances e contos, e sua entrada para a Aca-
demia Rio-Grandense, honrado em ocupar a cadeira de Gregório.

As palavras do discurso de Waldomiro Manfroi, lidas no Memorial do Rio Grande do Sul, representam uma verdadeira poética. Em seguida à saudação inicial, faz uma profissão de fé pela Literatura, citando Edgar Morin, quando nos recomenda viver a parte poética de nossas vidas. Se Gregório escreveu poesia, ensaios e biografia – contribuição reflexiva sobre a condição humana, Manfroi escreve nos romances e contos o que é invisível nas ciências humanas, colocando à mostra as relações do ser humano com o outro, com a sociedade e com o mundo.

No encontro de São Leopoldo, o escritor narrou alguns episódios dos romances Tempo de viver (1992), A confissão do espelho (1999) e Os demônios do lago (2004), bem como as estratégias de romancista e as razões que levam um profissional da Medicina a deitar-se sobre a criação literária. Do ponto de vista da geografia gaúcha, o romance A confissão do espelho nos traz um recanto civilizatório, que estava faltando no retrato deste Rio Grande do Sul. Sobre o espaço em que se insere a temática do livro, depois de muitos anos, descobri o que dizes: ninguém tinha tratado este tema com esta dimensão.

O escritor Waldomiro Manfroi enriquece o lugar que Gregório ocupou e tantos escritores ilustres compartilharam. Com as histórias de enigma, tanto em A confissão do espelho quanto em Férias interrompidas, veicula os dilemas da vida amorosa e oferece aos leitores uma expressão linguística contemporânea. A prosa do escritor contempla a versatilidade da língua portuguesa temperada com o melhor do vocabulário sul-rio-grandense, vivo nos rincões. Sob este aspecto, há uma confluência entre o Waldomiro Manfroi, seu antecessor Caio Flávio e o patrono Gregório.

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