Esta coluna reúne críticas literárias de Wagner Coriolano de Abreu, publicados originalmente no livro SEMPRE AOS PARES, lançado pela Carta Editora.
NA CADEIRA DE GREGÓRIO
(Wagner Coriolano de Abreu)
A cadeira de Gregório da Fonseca não é um ícone do design brasileiro, como a famosa cadeira do artista plástico Sérgio
Rodrigues. A cadeira de Gregório tem assento na Academia Rio-Grandense
de Letras, indicando um lugar oficialmente reconhecido de honra
e de autoridade. Gregório Porto da Fonseca, natural de Cachoeira
do Sul, destacou-se na vida local, como figura da história literária
no Rio Grande do Sul, e na vida nacional, como ocupante da cadeira
27 da Academia Brasileira de Letras, quando participava ativamente
da vida literária na cidade do Rio de Janeiro.
Em maio de 2009, o médico e romancista Waldomiro Carlos Manfroi proferiu o discurso de posse à cadeira 30 do patrono
Gregório Fonseca, passando a ocupar a vaga deixada, em 2007, pelo
médico cardiologista e poeta Caio Flávio Prates da Silveira. Em
agosto de 2010, Walfomiro Manfroi esteve em São Leopoldo, participando
do Momento Cultural/SESC, no Espaço Vila D’Assissi, onde expôs
sua obra ficcional, feita de romances e contos, e sua entrada
para a Aca-
demia Rio-Grandense, honrado em ocupar a cadeira de
Gregório.
As palavras do discurso de Waldomiro Manfroi, lidas no Memorial do Rio Grande do Sul, representam uma verdadeira
poética. Em seguida à saudação inicial, faz uma profissão de fé pela
Literatura, citando Edgar Morin, quando nos recomenda viver a parte
poética de nossas vidas. Se Gregório escreveu poesia, ensaios e biografia – contribuição reflexiva sobre a condição humana, Manfroi
escreve nos romances e contos o que é invisível nas ciências
humanas, colocando à mostra as relações do ser humano com o outro, com a
sociedade e com o mundo.
No encontro de São Leopoldo, o escritor narrou alguns
episódios dos romances Tempo de viver (1992), A confissão do
espelho (1999) e Os demônios do lago (2004), bem como as estratégias de
romancista e as razões que levam um profissional da Medicina a
deitar-se sobre a criação literária. Do ponto de vista da geografia gaúcha,
o romance A confissão do espelho nos traz um recanto civilizatório,
que estava faltando no retrato deste Rio Grande do Sul. Sobre o espaço
em que se insere a temática do livro, depois de muitos anos,
descobri o que dizes: ninguém tinha tratado este tema com esta dimensão.
O escritor Waldomiro Manfroi enriquece o lugar que Gregório ocupou e tantos escritores ilustres compartilharam. Com as
histórias de enigma, tanto em A confissão do espelho quanto em Férias
interrompidas, veicula os dilemas da vida amorosa e oferece aos
leitores uma expressão linguística contemporânea. A prosa do escritor
contempla a versatilidade da língua portuguesa temperada com o
melhor do vocabulário sul-rio-grandense, vivo nos rincões. Sob este
aspecto, há uma confluência entre o Waldomiro Manfroi, seu antecessor
Caio Flávio e o patrono Gregório.
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