segunda-feira, 13 de abril de 2020

CARTAS DO INTERIOR

Esta noite tive um pesadelo


Me parece que nunca falei de minhas noites, mas acho que chegou a hora, pois não consigo carregar sozinho os horrores que tenho visto nos últimos tempos. Vocês já viram uma boca de lobo com os dentes arreganhados e os olhos do dito cujo projetando uma luminosidade estranha na sua direção, alguma coisa como dois raios beta visíveis?

Se a resposta é negativa, você não sabe o que é terror.

No pesadelo que tive esta noite, todos nós, os brasileiros, éramos considerados imbecis, incapazes de escolher um destino, pessoas que precisavam de um condutor. E o condutor apareceu subitamente na forma de um alienígena que pretendeu mudar tudo em nossa vida, a começar pela alienação de nossas riquezas, pela rejeição de nossas crenças, sobretudo a crença na ciência, mas também no conhecimento geográfico, pois agora deveríamos aceitar a ideia de que nosso planeta assemelhava-se a uma enorme pizza, mas sem o sabor desta.

O condutor, aquele alienígena, usava uma alcateia dos lobos acima descritos, que não davam folga noite ou dia para que descansássemos do medo que infundiam. Os dentes arreganhados perseguiam-nos até nos sonhos com que tentávamos aliviar o pesadelo.

Era uma noite sem lua, de grossas nuvens que encobriam as estrelas. Mesmo sem as vermos, contudo, sabíamos que elas estavam lá, e isso nos animava a nos mantermos vivos e com a esperança de que um dia voltaríamos a vê-las no céu.

Hoje, depois de tudo passado, não tenho certeza do tempo que durou o pesadelo, mas forçando a memória chego a alguma coisa em torno de quatro anos. E como foi que tudo acabou? Bem, alguns estudiosos descobriram que a matilha em determinado momento começou a ter lutas intestinas que gradativamente foram corroendo seu condutor em forma de um alienígena, e tal foi a intensidade da luta, pois cada um pretendia estar mais perto do condutor, que começaram, uns a fugir, e outros a se
estraçalhar.

Mas antes, bem antes do dia clarear, muitos de nós já começávamos a sonhar com um dia radioso, flores em árvores e arbustos, passarinhos fazendo ninhos nos beirais das casas, chilreando como se tudo fosse uma festa, as pessoas sorrindo nas casas e calçadas, sorrindo porque estaríamos livres de um alienígena que só pretendia fazer-nos mal, claro que em seu próprio benefício. O Sol, ah, o Sol, que nesses supostos quatro anos ficara escondido, então voltava a brilhar porque o alienígena mandara-se para o buraco negro e profundo de onde nunca deveria ter saído.

Esse era nosso sonho, e dizem que os sonhos, muitas vezes, tornam-se realidade.

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