quinta-feira, 2 de abril de 2020

CRÍTICA LITERÁRIA

Esta coluna reúne críticas literárias de Wagner Coriolano de Abreu, publicados originalmente no livro SEMPRE AOS PARES, lançado pela Carta Editora.

O ESCRITOR DAS CRIANÇAS


(Wagner Coriolano)

A poucos dias de completar 60 anos sem o escritor Monteiro Lobato, falecido em julho de 1948, ainda ecoa no Brasil das crianças o efeito de suas criativas personagens. E, muitos brasileiros, lembramos a boneca Emília e o lendário Saci Pererê, quando fazemos referência ao universo da literatura para o público infanto-juvenil ou enfatizamos o esforço de Lobato pela emancipação intelectual das futuras gerações.

Antes de iniciar a série de personagens do Sítio do Pica-pau Amarelo, José Bento Monteiro Lobato – batizado José Renato não José Bento – aparece com a criação de Jeca Tatu, a representação literária do homem atrasado, que vivia nas cidades mortas do interior de São Paulo, onde prosperaram antigas fazendas de café no século 19.

Após se formar em Ciências Sociais e Jurídicas, na capital do Estado, em 1904, o escritor volta para a cidade natal, Taubaté, no Vale do Paraíba, e pouco tempo depois segue para Areias, pequena cidade morta (“vivia das áureas lembranças do passado”, segundo Cassiano Nunes), a fim de assumir o cargo de promotor público da comarca.

De 1908 a 1921, ano em que inicia a escrita de história para crianças, Monteiro Lobato se casa com Maria Pureza e se torna pai de Marta, Edgard, Guilherme e Ruth. Herdeiro da fazenda Buquira, do avô materno Visconde de Tremembé, deixa a promotoria e abraça a vida de fazendeiro. Como os negócios não prosperam como deseja, em 1917 vende a fazenda e, em 1918, compra a Revista do Brasil, uma publicação de intelectuais ligados ao jornal O Estado de São Paulo, propriedade da família Mesquita. Não pára nesse negócio. Em 1919, abre a firma Monteiro Lobato & Cia, concretizando o antigo sonho de editar livros.

A editora de Monteiro Lobato, por sete anos, populariza o livro por diversas regiões do país e edita um sem número de autores novos. Desse modo, torna possível a realização do desejo de leitura de um público que contava com inexpressiva publicação nacional, pagando caro pelas edições vindas de Portugal e pelas edições vindas de Portugal e pelas edições importadas em língua estrangeira. Com a proposta de baratear o livro, Lobato ainda uma vez enfrenta dificuldades de seguir com a empresa, pelo custo elevado do papel brasileiro e pela impossibilidade de importá-lo, devido às altas taxas.

Dos altos e baixos da vida, o escritor herdou uma riqueza sem precedentes, com as quais soube rechear o repertório dos trabalhos intelectuais, no campo das Letras, e em outros campos, com livros sobre saúde pública, petróleo, folclore, imprensa, energia, ciências, vida literária e inúmeras cartas. A sua literatura para crianças e jovens registra este amplo conhecimento, em linguagem acessível, mas não empobrecida de palavras e sentidos. A leitura de qualquer de uma das 32 histórias originais de Lobato acenderá o sentimento de identidade com as coisas do Brasil e, mesmo a leitura das sete adaptações de clássicos, fortalecerá o desejo de boas escolas e editoras que valorizem a cultura do livro.


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