Esta coluna reúne críticas literárias de Wagner Coriolano de Abreu, publicados originalmente no livro SEMPRE AOS PARES, lançado pela Carta Editora.
(Wagner Coriolano)
O ESCRITOR DAS CRIANÇAS
(Wagner Coriolano)
A poucos dias de completar 60 anos sem o escritor Monteiro Lobato,
falecido em julho de 1948, ainda ecoa no Brasil das crianças o efeito de suas
criativas personagens. E, muitos brasileiros, lembramos a boneca Emília e o
lendário Saci Pererê, quando fazemos referência ao universo da literatura para
o público infanto-juvenil ou enfatizamos o esforço de Lobato pela emancipação
intelectual das futuras gerações.
Antes de iniciar a série de personagens do Sítio do Pica-pau
Amarelo, José Bento Monteiro Lobato – batizado José Renato não José Bento –
aparece com a criação de Jeca Tatu, a representação literária do homem
atrasado, que vivia nas cidades mortas do interior de São Paulo, onde
prosperaram antigas fazendas de café no século 19.
Após se formar em Ciências Sociais e Jurídicas, na capital
do Estado, em 1904, o escritor volta para a cidade natal, Taubaté, no Vale do
Paraíba, e pouco tempo depois segue para Areias, pequena cidade morta (“vivia
das áureas lembranças do passado”, segundo Cassiano Nunes), a fim de assumir o
cargo de promotor público da comarca.
De 1908 a 1921, ano em que inicia a escrita de história para
crianças, Monteiro Lobato se casa com Maria Pureza e se torna pai de Marta,
Edgard, Guilherme e Ruth. Herdeiro da fazenda Buquira, do avô materno Visconde
de Tremembé, deixa a promotoria e abraça a vida de fazendeiro. Como os negócios
não prosperam como deseja, em 1917 vende a fazenda e, em 1918, compra a Revista
do Brasil, uma publicação de intelectuais ligados ao jornal O Estado de São Paulo,
propriedade da família Mesquita. Não pára nesse negócio. Em 1919, abre a firma
Monteiro Lobato & Cia, concretizando o antigo sonho de editar livros.
A editora de Monteiro Lobato, por sete anos, populariza o
livro por diversas regiões do país e edita um sem número de autores novos. Desse
modo, torna possível a realização do desejo de leitura de um público que
contava com inexpressiva publicação nacional, pagando caro pelas edições vindas
de Portugal e pelas edições vindas de Portugal e pelas edições importadas em
língua estrangeira. Com a proposta de baratear o livro, Lobato ainda uma vez
enfrenta dificuldades de seguir com a empresa, pelo custo elevado do papel
brasileiro e pela impossibilidade de importá-lo, devido às altas taxas.
Dos altos e baixos da vida, o escritor herdou uma riqueza
sem precedentes, com as quais soube rechear o repertório dos trabalhos intelectuais,
no campo das Letras, e em outros campos, com livros sobre saúde pública,
petróleo, folclore, imprensa, energia, ciências, vida literária e inúmeras
cartas. A sua literatura para crianças e jovens registra este amplo
conhecimento, em linguagem acessível, mas não empobrecida de palavras e
sentidos. A leitura de qualquer de uma das 32 histórias originais de Lobato
acenderá o sentimento de identidade com as coisas do Brasil e, mesmo a leitura
das sete adaptações de clássicos, fortalecerá o desejo de boas escolas e
editoras que valorizem a cultura do livro.
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