segunda-feira, 11 de maio de 2020

CARTAS DO INTERIOR

Esta coluna reúne crônicas de Mnalton Barff .

Dia de luta ou luto


Acabava de voltar da seção onde sou registrado como eleitor, onde deveria votar. E votei. Votei de acordo com minha consciência, mas isso, na verdade, é o quase nada que não passa de 0,000001 do resultado final. Mas poderia ser diferente? Claro que não. O poder que transfiro ao Leviatã, em compensação, não passa de 0,000001 também. Outro quase nada. Mas é assim que funciona nossa democracia.

Há movimentos dentro da sociedade brasileira que detestam a democracia, achando que muito melhor do que transferir seu poder de cidadão ao Estado, que deverá administrá-lo a seu talante, muito melhor é ser despojado de qualquer direito pelo poder discricionário de um governo forte dando-lhe legitimidade.

Pois bem, os dias de luta chegavam ao fim. Não havia feito tudo que estivera ao meu alcance, como deveria, mas distraído com meras questões pessoais, estive sentado na incerteza.

E então, ante a sombra do luto possível, me convenci de que se fosse de luto nosso futuro, não poderia deixar de ser ao mesmo tempo de luta. Devo continuar mais atento, porque nosso maior bem como sociedade civilizada é a democracia. Com todos os defeitos que ela possa ter é melhor do que um sistema político de força, porque governo forte é sempre forte contra o cidadão, que de repente ainda é 0,000001 como participante de uma sociedade, mas é 100% um ser, como indivíduo, para sofrer o resultado de ações discriminatórias de um governo de pensamento único.

Nada pior do que a mão única, do que a imposição de um pensamento que não admite divergentes. A História da humanidade está repleta de exemplos desse tipo de governo e nenhum deles foi benéfico ao desenvolvimento da sociedade em que se estabeleceu. Pelo contrário, em todos eles o que encontramos é a imposição de pesados sofrimentos a uma boa parte da população em benefício daqueles que governam através da força.

Ainda não podia saber o que teríamos no dia seguinte. Se porventura fosse o luto, como estava ameaçado, no dia seguinte mesmo deveríamos encarar a luta. E luta não mais contra pessoas ou partidos, mas luta pela liberdade democrática, luta pelos direitos civis, luta pela civilização.

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