segunda-feira, 1 de junho de 2020

CARTAS DO INTERIOR

Esta coluna reúne crônicas de Menalton Braff. A de hoje é inédita. 

Lavar as mãos


O lava-pés se não estou enganado era um ato referido pela bíblia, isto é, um costume antigo, simbolismo de alguma coisa que nos meus ínfimos conhecimentos teológicos não consigo saber o simbolizado, mas que não me cabe na cabeça ser um ato apenas higiênico, isso não me cabe.

Pois bem, se os antigos praticavam o lava-pés, e o Adamastor, aqui do lado, me diz que até hoje se pratica esse ritual, nós, na modernidade sabe-se lá o que signifique essa palavra, se em 1761 o Marquês de Pombal foi um estadista moderno, atuando em sua modernidade, então melhor será dizer “nos dias atuais” temos todo o direito de  ntroduzir nos costumes o “lava-mãos”, e agora com evidente sentido prático, isto é, nada de simbologia, pois sua função é higienizá-las, as mãos, para evitar o contágio do coronavírus, também conhecido como covid-19.

Me perdoe o autor do texto abaixo, que não é meu, mas não consigo me lembrar de quem seja, apesar disso, achei tão bom que não resisti à tentação de utilizá-lo. “Ultimamente tenho lavado tanto as mãos, mas tanto, que até uma cola de matemática feita na 7ª série vai aparecendo”.

Conheci vários maníacos do lava-mãos, mas deles o que mais conquistou minha simpatia foi o Luís da Silva, protagonista de Angústia, este fabuloso romance do Graciliano Ramos. O Luís, é claro, tinha algum problema psicológico, uma necessidade angustiante de se limpar, principalmente as mãos, que lavava a toda hora, mesmo quando limpas.

A despeito da anedota que me fez lembrar de minha 7ª série, na verdade, nestes tempos de pandemia, criei a mania de lavar as mãos. Dou dois passos pra lá e dois pra cá, como na canção, e não posso ver torneira que caio em cima. Com isso, penso estar fazendo a minha parte no combate ao covid.

Há uma corrente de opinião regida por um ex-brasileiro que foi morar nos states, afirmando que pandemia não existe, que só os tolos ainda acreditam que a Terra seja um globo ou que tudo não passe de uma gripezinha à toa, e que os mais de vinte e cinco mil óbitos são de pessoas que mais cedo ou mais tarde morreriam mesmo, como, aliás, todos nós. Se temos de morrer um dia, meu deus, que seja já. Casimiro de Abreu, um carioca da cepa, contrariando, teria dito que “Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o sabiá!” E isso antes da gripe espanhola, que de espanhola só tinha o nome.

Bem, eu, que gostaria de viver um pouco mais, tomo meus cuidados: não saio sem máscara, lavo constantemente as mãos, não me aproximo das pessoas a menos de metro e meio, cumprimento com o cotovelo, só por muita necessidade saio de casa, o que tem sido muito bom, pois comecei um romance nos idos de março e já estou perto do epílogo, ah, sim, porque será um romance com clímax e epílogo e todas essas coisas antigas. Sim, porque além de lavar as mãos a toda hora, quase não faço outra coisa mais do que ler e escrever. E acima de tudo, eu ainda quero ouvir na laranjeira o sabiá.
Ah, um recado, se aqui cabe uma recomendação, não vão acreditando nas autoridades oficiais, porque eles desprezam a vida, são entidades que emergiram do Hades.

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