segunda-feira, 27 de julho de 2020

CARTAS DO INTERIOR

Esta coluna reúne crônicas de Menalton Braff. A de hoje é inédita.

Poderia ser um Editorial


Como vivemos uma pandemia et pour cause é bom lembrar os tempos em que se podia comemorar com festas ou sem festas, mas com muita alegria, uma variedade muito grande de eventos e efemérides. Mês das noivas, dia das mães, festas juninas, dia dos namorados, justiça, solidariedade, meu deus, quanta coisa mais poderíamos agendar para nosso festejo.

Pois é a própria dificuldade que fornece a chave do que possa unir coisas tão díspares. Falar hoje de amor é muito difícil e ele, o amor, por ser assim tão geral, talvez seja o elo necessário entre os temas a que devemos homenagens nesta época do ano. Difícil, falar de amor nos dias que correm, não porque já não se fale mais nele, mas justamente porque muito se tem dito sobre o mesmo. É possível ainda chover sem ser no molhado? Quase impossível.

Pois é a quase impossibilidade de apresentar com novidade tema tão batido que nos fez retroceder no tempo, lá para os idos do século XVII, quando o gênio de Vieira transformava seu pensamento, seu portentoso pensamento, em língua, a nossa, que depois dele tornou-se bem maior. E é do Padre Antônio Vieira as considerações a respeito do amor que nesta ocasião submetemos à reflexão de nossos leitores.

Discutindo o verdadeiro amor, o amor fino, assim se manifesta o autor:
Definindo S. Bernardo o amor fino, diz assim: Amor non quaerit causam, nec fructum: O amor fino não busca causa nem fruto. Se amo, porque me amam, tem o amor causa; se amo, para que me amem, tem fruto: e amor fino não há de ter porquê, nem para quê. Se amo, porque me amam, é obrigação, faço o que devo; se amo, para que me amem, é negociação, busco o que desejo. Pois como há de amar o amor para ser fino? Amo, quia amo, amo, ut amem: amo, porque amo, e amo para amar. Quem ama porque o amam, é agradecido; quem ama, para que o amem, é interesseiro; quem ama, não porque o amam, nem para que o amem, esse só é fino.”

Você tem certeza de que seu amor é do bom, do verdadeiro, do amor fino? Vamos festejar, vamos comemorar, mas sem nos deixar envolver por falsos sentimentos que só nos podem desumanizar.

Festejar em casa e apenas com os membros da família. Apesar do cansaço que já nos causa o assunto, não se pode esquecer que a curva continua ascendente. Um dia alivia as estatísticas para no dia seguinte se abater sem dó sobre nosso pobre país. E grande parte das pessoas continua sem usar máscara, reunindo-se em grandes grupos, sem obedecer ao distanciamento protocolar, enfim, fazendo as festas que sempre fizeram. Um vizinho meu faz churrasco todos os dias e, na frente da casa dele juntam-se uma dúzia de carros, mas todos eles amigos.

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