
“Louco para ser normal”
Vanessa Maranha
De tempos em tempos, os padrões comportamentais e culturais
se alteram, não raro, radicalmente, em inversão mesmo, e, o que era uso ou
tabu, no salto de uma ou duas gerações, torna-se o seu oposto.
Exemplifiquemos isto num enquadre histórico recente: se na
década de 50 o sexo recreativo antes/fora do casamento era socialmente
condenável, os anos subseqüentes assistiram à “tirania do genital” (Bruckner e
Finkielkraut), isto é, a redução da sexualidade e do erotismo ao equipamento
sexual masculino e feminino. Primeiro aquilo que foi se desvelando como a
ditadura do sexo livre e descompromissado, depois, a do imperativo do orgasmo,
sobrando então, como antes, pouco espaço para a subjetividade.
O mesmo se deu em
relação aos parâmetros de loucura e sanidade. Vem dos movimentos de
contracultura da década de 60, bem como de libelos artísticos muito anteriores
(surrealismo, dadaísmo, byronismo, beatnik etc.) a idéia de que legal é ser
excêntrico, livrar-se das amarras do estabelecido e enlouquecer; loucura aqui
equivalente a liberdade. Para algumas linhas de pensamento (e de mercado!)
cultivadas até hoje, ser louco é o que há. Sanidade é caretice. Temos que ser
loucos para violar o tabu ou a loucura é a punição por nossa coragem de
fazê-lo?