sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

GRANDE SERTÃO: VEREDAS (18)

O ARMISTÍCIO?
                                                                               Dentro da casa da casa da fazenda já não se sente a intensidade do tiroteio, mas ouvem-se disparos incessantes pelas redondezas. São os soldados para quem Zé Bebelo havia enviado os bilhetes. Agora, Zé Bebelo está cercado por Hermógenes que está cercado pelos soldados.                Riobaldo continua contando sua história.


Pág. 359 - "Mas como menos do que foi: a meio, por em dobro não contar. Assim seja que o senhor uma ideia se faça. Altas misérias nossas.
(...)
"Agora, que mais idoso me vejo, e quanto mais remoto aquilo reside, a lembrança demuda de valor - se transforma, se compõe, em uma espécie de decorrido formoso."
Verdadeira aula de narrativa memorialista.
Pág. 360 - "Um pudesse narrar - falo para o senhor crer - que a casa-grande toda ressentia, rangendo queixumes, e em seus escuros paços se esquentava. Ao por mim, hora em que pensei, eles iam acabar arriando tudo, aquela fazenda em quadradão. Não foi. Não foi, como logo o senhor vai ver. Porque, o que o senhor vai é - ouvir toda a estória contada."
Mais um exemplo de prolepse (arremesso para frente).
Vem então uma relação extensas de companheiros mortos e feridos, para voltarem as desconfianças de Riobaldo em relação às verdadeiras intenções de Zé Bebelo.
Pág. 360 - "Um urucuiano, daqueles cinco urucuianos de Zé Bebelo. Isso, no instante, estranhei. Notei, de repente: aquele homem, fazia tempo que não se arredava de mim, sempre me seguindo, por perto.
Solevei uma desconfiança.  (...) - 'Quê que é? Tu amigou comigo?! Tatú - tua casa...' - para ele. Semi-sério ele se riu. Comparsa urucuiano dos olhos verdes, homem muito feioso. "
Pág. 362 - "Aquele homem - achei - estava mandado por Zé Bebelo, para espreitar meus atos."
Pág. 363 - "Tudo em encoberto. Então - se Zé B ebelo guardava uma tenção honesta - por que, dito e feito, era que não punha todo o mundo ciente do tramado? (...) Aos perigos, os perigos. Só duma coisa eu forte sabia... Só que eu ia vigiar sempre Zé Bebelo. Ele trair, vivo, eu não deixava."
E agora a situação dilemática:
Pág. 364 - "Zé Bebelo era a perdição, mas também só ele podia ser a salvação."
Pág. 365 - assim Zé Bebelo instruiu; e se virou para mim. -' Inimigo que faz igual numeração, ou menor do que a nossa. Por via disso é que não tomam coragem de dar assalto, e é também que eles não conhecem o interior desta boa casa...' Falou o tanto, comigo."
Págs. 365/366 - "O que será vai ser ou vai não ser...' - alastrei, no mau falar, no gaguejável. Senhor sabe por que? Só porque ele me mirou, ainda mais mór, arrepentinamente, e eu a meio me estarreci - apeado, goro. apatetado? Nem não sei. Tive medo não. Só que abaixaram meus excessos de coragem, só como um fogo se sopita. Todo fiquei outra vez normal demais; o que eu não queria. Tive medo não. Tive moleza, melindre. Aguentei não falar adiante."
Pag. 370 - "A minha terra era longe dali, no restante do mundo. O sertão é sem lugar."
O sertão como espaço mito poético vai sendo distribuído pelas muitas falas de Riobaldo, em frases curtas como a anterior.
Pág. 370 -"A tristeza, por Diadorim: que o ódio dele, no fatal, por uma desforra, parecia até ódio de gente velha - sem a pele do olho. Diadorim carecia do sangue do Hermógenes e do Ricardão, por via."
Riobaldo estranha a intensidade do sentimento do companheiro, mas não consegue entender a causa.
Pág. 372 - "Mas, então, a soldadesca tinha vindo, alcançada, estavam chegando? (...) Os praças? O) tiroteio deles, pegando os hermógenes de supetão, surpresa bruta, de retaguarda. Os tiros, que eram: ... a bala, bala, bala... bala, bala, bala... a bala; bá!... - desfechavam com metralhadora. "
Pág. 374 - " Então, eu nãio era jagunço completo, estava ali no meio executando um erro. Tudo receei. Eles não pensavam. Zé Bebelo, esse raciocinava o tempo inteiro, mas na regra do prático. E eu? Vi a morte com muitas caras. Sozinho estive - o senhor saiba. Mas, nisso, conforme o acontecido exato, uma coisa muito inesperada se deu. Da banda do mato, de repente, por cima das môitas de lobolobo, alguém levantou um pano branco, na ponta de uma vara."




Um comentário:

  1. Menalton, O músico Alexandre Moschella tem um espetáculo musical inspirado no Grande Sertão:Veredas. Vale a pena dar uma olhada. http://www.alexandremoschella.com/audiovideo.htm

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