PARA LER GUIMARÃES ROSA
Um dos maiores escitores brasileiros de todos os tempos, Guimarães Rosa não fez literatura digestiva, banal, a chamada literatura de consumo ou de entretenimento (passatempo). Ele fez literatura arte, e arte, segundo Adorno, só merece tal designação se problematizar a realidade ou a si mesma. GR problematizou ambas.
Sua linguagem atingiu um nível de invençao, a partir de anotações feitas no sertão, que representam o estranhamento (característica da "alta literatura") que muitas vezes assusta o leitor desavisado e de pouca experiência estética.
Para a leitura deste livro é preciso mergulhar em seu ambiente sem admitir concorrência. O que se encontra não é uma historinha banal, mas um universo mítico e místico, uma Idade Média plantada no sertão mineiro. Mas além disso, para ler Guimarães Rosa é necessário o gosto pela palavra, pelas combinações insólitas e por recursos poéticos de que sua linguagem está eivada.
Exemplifiquemos: - resposta implícita (pág. 41) "Ah, lhe agradeço." O interlocutor não aparece e seu discurso é apenas suposto.
- intensificação (pág. 45) "Puxava uma brisabrisa." A duplicação usada como intensificação.]
- neologismos (diversos) sufusa, grandidade, volvência, larguêia, imaginalmente, suíxo, arêjo, pauto, sobejidão, tresfim, roupilhando, coraçãoados, sofraldas, entrequanto, drongo
- construções sintáticas insólitas (pág. 246) "Vir voltemos." (pág. 240) "Por fim, no porém, passados anos..." (pág. 240) "- em desde que de joelhos começada..." (pág. 233) "Em tenho que não." (pág. 225) "O que tivesse de ser, somente sendo."
- latinismos (matéria de conto) requiescante
- arcaísmos (pág. 232) ripostavam (matéria de conto) asinha (significando depressa)
- construções inusitadas - (pág. 224) "O que eu tinha de querer era que nós dois saíssemos sobrados com vida, desses todos combates, acabasse a guerra, nós dois largávamos a jagunçada, íamos embora, para os altos Gerais tão ditos, viver em grande persistência."
(pág. 217) "Natureza da gente bebe de águas pretas, agarra gosma."
Enfim, não se esgotam os recursos linguísticos de GR no pouco espaço. A cada momento uma surpresa, uma invenção diferente, um prazer que se renova em cada página.
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