Terminei de ler ontem e ainda estou em estado de graça. O sol nas feridas é um livro de poemas de Ronaldo Cagiano, no qual retoma sua temática predileta: o homem como ser no mundo, suas angústias, sua consciência dos embates que deverá enfrentar; mas também o homem como ser social (que Drummond chamaria de "embate social" na classificação que fez de sua poesia). E nisso, Ronaldo Cagiano demonstra não só competência na abordagem do assunto como também sensibilidade para captar as sutilezas dos pensamentos e sentimentos do ser humano. Mas não só no plano do conteúdo o livro é admirável; também no plano da expressão o Cagiano atinge um grau de poeticidade, a beleza de suas combinações, que se encontram apenas nos grandes poetas. Como exemplo, o poema abaixo:
Gênese
Busco na palavra sua unção,
labirinto de paradoxos
onde mergulho
feito escafandrista num garimpo de im
possibilidades.
Território de invenções,
ela me estende a ponte
entre o sagrado
e o profano
Em cada manhã
rompe com sua insistência de rio
e sua pontualidade solar.
Meticuloso engenho do verbo
que se faz silêncio
ou boato
Rumino sua nudez
ou desvelo as suas rugas.
Entre a fuga
e os deslizes
o poema vinga
rosa intimorata perfurando o asfalto
Nutre-me do que é míngua
recicla-me do que é sangue.
Gênese
Busco na palavra sua unção,
labirinto de paradoxos
onde mergulho
feito escafandrista num garimpo de im
possibilidades.
Território de invenções,
ela me estende a ponte
entre o sagrado
e o profano
Em cada manhã
rompe com sua insistência de rio
e sua pontualidade solar.
Meticuloso engenho do verbo
que se faz silêncio
ou boato
Rumino sua nudez
ou desvelo as suas rugas.
Entre a fuga
e os deslizes
o poema vinga
rosa intimorata perfurando o asfalto
Nutre-me do que é míngua
recicla-me do que é sangue.
Ah! que lindo!
ResponderExcluirMaravilhoso, realmente!pois que no princípio era o verbo...
ResponderExcluirMuito bom! Não o conhecia.
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