DO AMOR AO SOFRIMENTO
Mal-estar na chegada do comendador.
Pág. 62 - "O comendador surgiu à porta e ali permaneceu por alguns segundos, como que desconcertado por ver tanta gente na sala."
Pág. 63 - "- Ah! São amigos meus, comendador, amigos íntimos, verdadeiros irmãos, gente da maior confiança. Pode ficar tranquilo."
(...)
"- Eu lhe deixei a coisa bem clara. Não desejava encontrar ninguém nesta casa a não ser sua proprietária e... a moça, naturalmente. Foi por isso que me sujeitei a pagar a quantia que me exigiram."
Pág. 64 - "- Ela já chegou?
- Ainda não.
Mas vem?
- Claro! E não pense que me foi fácil convencer a moça. Como o senhor sabe, ela é casada... Se está demorando decerto é porque antes de sair tgeve de fazer o filho dormir. essas crianças às vezes acordam no meio da noite...
Num cochicho malicioso, acrescentou:
_ O marido ánda viajando. E o senhor não imagina a lábia que tive de usar para convencer a criatura. Se fosse uma prowstituta vulgar...
(...)
"- Quer dizer que ainda vou ter de encontrar mais gente esta noite?
A madama aproximou-se, chegou a tocar-lhe o braço, de leve.
- Mas não, doutor, as pessoas que estão nos quartos de cima não precisam passar por esta sala para irem embora. Eu reservei para o senhor o melhor apartamento da casas, aqui embaixo, com banheiro ao lado..."
Pág. 65 " O Desconhecido - que já agora olhava para o comendador com certa hostilidade - soergueu-se um pouco na poltrona e murmurou:
- Ela não vem.
O mestre encarou-o.
- Por que não há de vir?
- Porque não.
- Não diga asneiras. Você nada sabe deste assunto.
- ela não vem!"
Pág. 66 - "Olhou para o céu; continuava nublado. (...) Do outro lado do estuário, em cuja superfície cintilavam as luzes vermelhas das boias, continuavam os relâmpagos."
Pág. 67 - "- E a guerra, comendador? Qual é sua opinião: sai ou não sai?
- Tem de sair. as coisas não podem ficar no pé em que estão.
O homem da flor sacudiu a cabeça, num acordo, dizendo:
- A guerra é uma necessidade.
- Não digo que seja uma necessidade - retorquiu o homem de negócios - mas que é inevitável, isso é.
O corcunda (...) perguntou:
- O senhor ganhou muito dinheiro com a última, não?"
(...)
"- Isso não vem ao caso!
- Ganhou ou não ganhou? - insistiu o anão."
Pág. 68 - "- Somos uma classe sacrificada - murmurou. - Impostos de todos os lados, contribuições decorrentes das leis sociais, e mais importos e contínuos aumentos de salários! Temos um lucro mínimo a par de riscos fabulosos. No entanto somos o eterno alvo da má vontade das massas e o bode-expiatório dos demagogos."
(...)
"- Perdi um sobrinho na última. Era mesmo que filho, criei o coitadinho desde pequeno. Está sepultado em terra estrangeira. Tinha dezenove anos. De que serviu o sacrifício? Já estão falando outra vez em guerra.
O corcunda ergueu vivamente a cabeça e exclamou:
- bolas! Mais tarde ou mais cedo o rapaz tinha de morrer. "
Pág. 69 - "- Se levo esta vida - choramingou a mulher - se tenho este negócio é porque preciso viver, não é que goste. Mas isso não é motivo para me faltarem com o respeito dentro da minha própria casa."
(...)
"- Se eu escrever aqui em que casa, a que horas e em que circunstâncias fiz este retrato, acho que qualquer jornal de escândalo me daria uma fortuna por esta folha de papel.
O comendador ergueu-se bruscamente.
- Isso é chantagem! - gritou, engasgado.
- Isto é negócio. E negócio tão honesto quanto os seus!"
Pág. 70 - "O homem do cravo avançou para o corcunda, arrebatou-lhe da mão o papel e rasgou-o em muitos pedaços, metendo-os no bolso num gesto resoluto.l Depois enlaçou o anão pela cintura, ergueu-o e praticamente atirou-o em cima do sofá.
O homenzinho mostrava os dentes num sorriso maldoso. Sem tirar os olhos do comendador, resmungou;
- O meu consolo é que vocês capitalistas estão condenados. Entre a força comunista e um enfarte do miocárdio, não há como fugir. É questão de tempo. Está claro que há alternativas... Podem ter um ataque de cabeça e caírem mortos em cima da escrivaninha ou da amante.
(...)
"- Não vim aqui para ser insultado. - Voltou´-se para o corcunda. - Se você fosse homem, eu lhe quebraria a cara. Mas não costumo maltratar os animais."
(...)
"- Eu lhe suplico, comendador - disse o homem do cravo, segurando o braço do outro. - Bão deite a perder a sua noite!
Naquele instante soou a campanhia da porta.
- É ela - exclamou a madama, alvoroçada. E precipitou-se para o corredor.
O comendador parecia indeciso. O ritmo de sua respiração acelerou-se. "
(...)
"Ao ver os dois homens, teve um leve sobressalto, que se traduziu num franzir de testa e num piscar de olhos. A dona da casa encorajou-a:
- São amigos, gente muito dfistinta. "
(...)
"Voltou a cabeça e sorriu para o Desconhecido, que não tirava os olhos dela, pensando agora na mulher esfaqueada. 'Meu Deus' - balbuciou - 'não pode ser, não pode ser'. De novo voltou-lhe todo o horror daquela suspeita."
Pág. 72 - "- O comendador está alvoroçado como um rapazinho na sua primeira noite nupcial! Madama, leve a noite!
- Não! - gritou o Desconhecido, pondo-se de p´´e.
(...)
"- E por que não? - perguntou, aproximando-se do homem de gris e encarando-o num desafio. - Será que meu caro assassino virou moralista?"
(...)
"O Desconhecido olhava perdidamente para a porta por onde havia saído a moça de azul-celeste.
(...)
"- Gostou da pequena?"
(...)
"- Gostei.
- Então me dê uma nota de quinhentos e eu deixarei você espiar o que está se passando no quarto..."
(...)
"- Resolva, homem!
Ele baixou a cabeça, murmurando:
- Está bem.
Entregou a carteira ao mestre, que tirou dela uma cédula de quinhentos.
- Vamos - ciciou o homem do cravo."
Depois de declamar trechos do Cântico dos Cânticos, os três companheiros tomam rumo diferente, iniciando-se nova cena.
Blog de Literatura do escritor Menalton Braff, autor de 26 livros e vencedor do Prêmio Jabuti 2000.
Páginas
- ALÉM DO RIO DOS SINOS
- AMOR PASSAGEIRO
- Noite Adentro
- O Peso da Gravata
- Castelo de Areia
- Pouso do Sossego
- Bolero de Ravel
- Gambito
- O fantasma da segundona
- O casarão da Rua do Rosário
- Tapete de Silêncio
- À sombra do cipreste
- Antes da meia-noite
- Castelos de papel
- A coleira no pescoço
- Mirinda
- A Muralha de Adriano
- Janela aberta
- A esperança por um fio
- Na teia do sol
- Que enchente me carrega?
- Moça com chapéu de palha
- Como peixe no aquário
- Copo vazio
- No fundo do quintal
- Na força de mulher
- O meu consolo é que vocês capitalistas estão condenados. Entre a força comunista e um enfarte do miocárdio, não há como fugir. É questão de tempo. Está claro que há alternativas... Podem ter um ataque de cabeça e caírem mortos em cima da escrivaninha ou da amante.
ResponderExcluir(...)
gostei disso...