terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

NOITE (19)

MAS QUEM É ESTA MULHER?


Tudo continua sem fazer muito sentido, mas o Desconhecido já começa a perceber que não está em seu maio.

Pág. 105 - "Desperta num sobressalto, soergue-se, olha em torno, atordoado, procurando orientar-se."


Observe-se a bela figura sonora "olha em torno, atordoado" que empresta poeticidade ao texto.

"Que tolice! Onde pode estar se não em seu próprio quarto, em sua própria casa, como sempre?"
(...)
"Uma luz gris alumia vagamente o quarto que ele não reconhece: a vidraça de guilhotina, as paredes brancas com manchas de umidade, o penteador de espelho redondo, o...
Não! Não é o meu quarto!
(...)
"De repente percebe que está completamente despido. Estranho. Não é seu costume dormir sem pijama. Ont em ao deitar-se... Ontem? Procura recordar o que aconteceu na véspera, à hora de recolher-se. Por mais que se esforce, não consegue."
Pág. 106 - "(...) A mulher que ali está deitada não é a sua."
"O coração rompe a pulsar-lhe acelerado.
Como foi que vim parar no quarto desta prostituta?"
(...)
"Tem a boca amarga, a saliva espessa. Doem-lhe os membros, o peito, as costas, e suas pisadas lhe repercutem no crânio em ferroadas que parecem varar-lhe os miolos."
(...)
"Leva algum tempo para identificar a rua. Tem a intuição de que não pode estar muito longe de sua casa.
A minha casa, a minha mulher... De súbito os acontecimentos da véspera lhe voltam à mente acompanhados duma sensação de desfalecimento e náusea."
"Relembra o momento terrível em que, ao voltar do trabalho ao anoitecer, encontrou a casa vazia e aquela carta sobre o consolo, junto do espelho."
Pág. 107 - " 'Minha mulher me abandonou.' Disse estas palavras como se estivesse a transmitir a si mesmo a notícia terrível" (...) Arremessou a coisa violentamente contra o espelho, que se partiu. E precipitou-se por toda a casa a gritar o nome da mulher. (...) Por fim, passado o acesso, sentou-se numa poltrona, aniquilado, a balbuciar - 'Não pode ser, não pode ser...' " (...) Depois do que aconteceu a noite passada, n´~ao podemos continuar vivendo juntos."
(...)
"... e desatou a chorar. Depois do que aconteceu a noite passada..."
"Ergueu-se e de novo andou pela casa toda a chamar pela mulher em voz alta. E, depois? Depois ... decerto saiu para a rua, meteu-se num bar, embiagou-se - ele que nunca bebia - e veio acabar a noite no quarto desta marafona."
Pág. 108 - "Agora que ewstá vestido, é como se houvesse recuperado integralmente não só a personalidade como também todos os seus direitos civis."
(...)
"Não deve acordar a desconhecida: teme o que ela possa revelar e as perguntas que venha a fazer."
Pág. 109 - "Mesmo assim seus dedos continuam a acariciar as coxas da rapariga.
- Vai dormir, meu bem - resmunga ela, sem abrir os olhos. - É muito cedo."
(...)
"Na ponta dos pés aproxima-se da porta, abre-a sem ruído e sai para o corredor, na direção da escada."

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