AOS POUCOS A MEMÓRIA SE RECONSTRÓI
Pág. 109 - "Mete a cabeça para fora, pela fresta da porta, espia para a direeita e para a esquerda e, depois de verificar que não há ninguém nos arredores, desce para a calçada.
A estrela matutina ainda pisca no céu que, na boca da rua, começa a tingir-se de carmesim.
Por alguns instantes ele caminha como um autômato, (...)
Das folhas das árvores pingam gotas dágua: (...)
Estaca a uma esquina para orientar-se. Onde estou?"
Pág. 110 - "Continua a andar, em marcha mais acelerada, animado por uma repentina esperança. Decerto ela voltou. E por que não? Não é rancorosa, tem senso comum, detesta as atitudes dramáticas. Para ela nada é irremediável, definitivo, irreparável. Sim. Pode ter-se arrependido e voltado durante a noite."
"Que horas serão? (...) "vidro e mostrador partidos. Lembra-se de que ao rasgar a carta gbateu com o relógio na quina do consolo."
"É inútil tentar iludir-se. Ela não voltou. A casa continua deserta. Está tudo acabado."
(...)
"Quantas quadras mais? É bom apressar o passo. Não. O melhor é ir devagar, retardar o momento da decepção."
Pág. 111 - "Afrouxa o passo. Seu olhar está fito no cachorro que fossa numa lata de lixo à frente dum restaurante, mas toda a sua atenção se concentra na mulher sem nome nem feições que lhe ocupa os pensamentos."
(...)
"Percorre alguns metros, embalado pela valsa, momentaneamente olvidado de suas feridas, e, ao chegar à primeira esquina, avista um homem todo de branco sentado num banco da praça fronteira, a soprar numa gaitinha."
"No centro da praça um anjo de bronze, as asas abertas, parece prestes a alçar o voo."
"Entrega-se, então, ao esquisito, abandonado prazer de chorar, lembrando-se dos tempos de menino quando, sempre que chorava, acabava por entreter-se com a ideia de que não era por causa das lágrimas que sua visão se turvava e sim porque ele havia descido às profundezas do mar.
Enxuga os olhos com a ponta dos dedos e retoma o caminho."
Pág. 112 - "Em sua mente brotam vultos e sussurros."
A novela está praticamente em seu clímax, mas o passado explicativo vai atenuar, por instantes, a tensão dramática.
Blog de Literatura do escritor Menalton Braff, autor de 26 livros e vencedor do Prêmio Jabuti 2000.
Páginas
- ALÉM DO RIO DOS SINOS
- AMOR PASSAGEIRO
- Noite Adentro
- O Peso da Gravata
- Castelo de Areia
- Pouso do Sossego
- Bolero de Ravel
- Gambito
- O fantasma da segundona
- O casarão da Rua do Rosário
- Tapete de Silêncio
- À sombra do cipreste
- Antes da meia-noite
- Castelos de papel
- A coleira no pescoço
- Mirinda
- A Muralha de Adriano
- Janela aberta
- A esperança por um fio
- Na teia do sol
- Que enchente me carrega?
- Moça com chapéu de palha
- Como peixe no aquário
- Copo vazio
- No fundo do quintal
- Na força de mulher
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirÉ um prazer muito grande tê-la como leitora. Beijos
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