MÚSICA ATÉ O AMANHECER
Pág. 41 - "Tudo aconteceu dentro da mais previsível normalidade, mas de uma forma inesperadamente benigna. Estou perdido. Ao lavrar este jardinzinho cometi um erro terrível, como Ajax - ou algum outro nome helênico, já esquecido - quando esfaqueou os animais; só que, neste caso, eu sou os animais esfaqueados."
"(...) Passou, na ida e na volta, no lado do meu jardinzinho, mas fingiu não vê-lo. Não desejei que o visse; pelo contrário, quando a mulher apareceu, compreendi o meu terrível equívoco, sofri por não poder apagar uma obra que me condenava para sempre."
Pág. 42 - "A mulher abriu o livro, pousou a mão entre as folhas, continuou contemplando a tarde."
(...)
"Apesar dos nervos, hoje senti inspiração, quando a tarde se desfazia, participando da incontaminãda serenidade, da magnificência da mulher."
"(...) ... dominou o desagrado que lhe produziu o meu horrendo jardinzinho e simulou, piedosamente, não o ver. Angustiava-me, também, ouvir Valência e Chá para Dois, que um gramofone exagerado repetiu até o nascer do sol."
Pág. 43 - "Tudo o que escrevi sobre o meu destino - com esperanças ou com temor, de brincadeira ou a sério - me mortifica."
(...)
"Hoje, a mulher quis que eu sentisse a sua indiferença. Conseguiu-o. Mas a sua t´=atica é desumana. Eu sou a vítima; no entanto, creio ver a questão de modo objetivo.
Veio com o horroroso tenista. A presença desse homem devia acalmar os meus ciúmes. É muito alto. (...) A pele é feminina, cerosa, marmórea nas têmporas. Os olhos são escuros; os dentes, abomináveis. Fala devagar (...) vocalizando infantilmente (...) As mãos são e5normes, pálidas..."
Pág. 44 - "Ouvi algumas exclamações francesas."
"- Acredite, Faustine - disse o barbudo, com desespero mal contido, e fiquei sabendo o nome dela: Faustine. (Mas isso já perdeu toda a importância.)
- Não... ´já sei o que procura...
Sorria, sem amargura nem êxtase, frivolamente. Recordo que, naquele momento, a odiei. Brincava com o barbudo e comigo.
- É uma pena não nos entendermos. O prazo é curto: três dias e já não adiantará."
Pág. 45 - "- Não é preciso preocupar-se. Não vamos discutir uma eternidade...
- Morel, - respondeu, bobamente, Faustine - sabe que o acho misterioso?"
"Na ida e na volta pisou no meu pobre jardinzinho. Ignoro se conscientemente ou com uma inconsciência irritante."
Pág. 46 - "Que devo pensar? Sem dúvida é uma mulher detestável. Mas, que será que ela quer? (...) Talvez Morel não seja mais do que uma ênfase no seu prescindir de mim..."
"Mas, se não for assim... Faz já tanto tempo que não me vê ... Creio que, se isso continuar, acabarei matando-a ou enlouquecendo. Há momentos em que penso que a extraordinária insalubridade da parte sul desta ilha me deve ter tornado invisível. Seria uma vantagem: poderia raptar Faustine sem qualquer perigo..."
Só agora se descobre que Morel não é o narrador, o culpado de algum crime não revelado pela narrativa. Trata-se de uma das personagens a que o narrador chama de "intrusos".
Outra observação, esta de caráter técnico, é que o narrador, diferentemente da literatura atualmente chamada de realismo mágico ontológico (fantástico), descreve com riqueza de detalhes, narra lentamente, comete círculos, em que a ação vai e retorna, em suma, o texto tem características do romance fantástico, mas não lhe faltam traços do romance realista de cunho intimista, com exaustivas descrições tanto físicas quanto psicológicas. Nessa variedade é que reside a grandiosidade do romance.
Pág. 41 - "Tudo aconteceu dentro da mais previsível normalidade, mas de uma forma inesperadamente benigna. Estou perdido. Ao lavrar este jardinzinho cometi um erro terrível, como Ajax - ou algum outro nome helênico, já esquecido - quando esfaqueou os animais; só que, neste caso, eu sou os animais esfaqueados."
"(...) Passou, na ida e na volta, no lado do meu jardinzinho, mas fingiu não vê-lo. Não desejei que o visse; pelo contrário, quando a mulher apareceu, compreendi o meu terrível equívoco, sofri por não poder apagar uma obra que me condenava para sempre."
Pág. 42 - "A mulher abriu o livro, pousou a mão entre as folhas, continuou contemplando a tarde."
(...)
"Apesar dos nervos, hoje senti inspiração, quando a tarde se desfazia, participando da incontaminãda serenidade, da magnificência da mulher."
"(...) ... dominou o desagrado que lhe produziu o meu horrendo jardinzinho e simulou, piedosamente, não o ver. Angustiava-me, também, ouvir Valência e Chá para Dois, que um gramofone exagerado repetiu até o nascer do sol."
Pág. 43 - "Tudo o que escrevi sobre o meu destino - com esperanças ou com temor, de brincadeira ou a sério - me mortifica."
(...)
"Hoje, a mulher quis que eu sentisse a sua indiferença. Conseguiu-o. Mas a sua t´=atica é desumana. Eu sou a vítima; no entanto, creio ver a questão de modo objetivo.
Veio com o horroroso tenista. A presença desse homem devia acalmar os meus ciúmes. É muito alto. (...) A pele é feminina, cerosa, marmórea nas têmporas. Os olhos são escuros; os dentes, abomináveis. Fala devagar (...) vocalizando infantilmente (...) As mãos são e5normes, pálidas..."
Pág. 44 - "Ouvi algumas exclamações francesas."
"- Acredite, Faustine - disse o barbudo, com desespero mal contido, e fiquei sabendo o nome dela: Faustine. (Mas isso já perdeu toda a importância.)
- Não... ´já sei o que procura...
Sorria, sem amargura nem êxtase, frivolamente. Recordo que, naquele momento, a odiei. Brincava com o barbudo e comigo.
- É uma pena não nos entendermos. O prazo é curto: três dias e já não adiantará."
Pág. 45 - "- Não é preciso preocupar-se. Não vamos discutir uma eternidade...
- Morel, - respondeu, bobamente, Faustine - sabe que o acho misterioso?"
"Na ida e na volta pisou no meu pobre jardinzinho. Ignoro se conscientemente ou com uma inconsciência irritante."
Pág. 46 - "Que devo pensar? Sem dúvida é uma mulher detestável. Mas, que será que ela quer? (...) Talvez Morel não seja mais do que uma ênfase no seu prescindir de mim..."
"Mas, se não for assim... Faz já tanto tempo que não me vê ... Creio que, se isso continuar, acabarei matando-a ou enlouquecendo. Há momentos em que penso que a extraordinária insalubridade da parte sul desta ilha me deve ter tornado invisível. Seria uma vantagem: poderia raptar Faustine sem qualquer perigo..."
Só agora se descobre que Morel não é o narrador, o culpado de algum crime não revelado pela narrativa. Trata-se de uma das personagens a que o narrador chama de "intrusos".
Outra observação, esta de caráter técnico, é que o narrador, diferentemente da literatura atualmente chamada de realismo mágico ontológico (fantástico), descreve com riqueza de detalhes, narra lentamente, comete círculos, em que a ação vai e retorna, em suma, o texto tem características do romance fantástico, mas não lhe faltam traços do romance realista de cunho intimista, com exaustivas descrições tanto físicas quanto psicológicas. Nessa variedade é que reside a grandiosidade do romance.
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