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Pág. 30 - "Faço um pequeno esforço para encará-la, na tentativa de descobrir sua reação ao que acabo de dizer. Estica o lábio inferior, ergue a sobrancelha, sem outra escolha, quase convencida por meu argumento.
Tenho alguma dificuldade para ficar encarando minha mãe por muito tempo. Não me sinto bem. O que eu queria ver já vi, então viro o rosto, olho para o lado. É uma espécie de pudor, ou medo de ser lido nos meus olhos, talvez, é um desconforto de que tenho fugido sempre. Há muito mistério no relacionamento entre as pessoas, umas áreas ensombrecidas, cercas e tapumes de umas plantas sem nome, estranhas plantas, disformes, que nós não sabemos explicar, mas que sentimos agudamente.
Ontem de manhã, acordei com os gritos dela, me chamando.
- Artur, corre aqui - ela dizia -, corre, menino. Seu pai está passando mal.
A cena que presenciei, logo que ultrapassei a porta, nunca mais na vida vai sair do fundo de meus olhos. Não gosto de entrar no quarto deles. Há ali um cheiro de suor, sei lá, muitas marcas dos dois, da vida dos dois, alguma coisa muito íntima, indevassável, como se um templo em cujo interior só a presença do sacerdote é permitida.
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